Friday, May 26, 2023

 


ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL:

OS 10 PONTOS DE UMA DIETA EQUILIBRADA

EM HARMONIA COM O MEIO AMBIENTE 

Por: Clara Castellotti (*)

“O mundo está interconectado através dos processos da nutrição e do alimento. O alimento não é uma mercadoria nutricionalmente vazia e tóxica, não pode ser “bioingernierizado” para compensar as suas carências. O alimento, aquele que definimos como “saudável”, é o resultado da nossa relação com a Terra e de como a cuidamos e o alimento “bom” é um direito para todos os seres vivos, desde as abelhas, que não deviam ser tratadas com neonicotinoides; os vermes não deviam ser eliminados com fertilizantes químicos e glifosato; desde a pessoa mais pobre até à última criança. Unamo-nos então, agora mesmo, em todo o mundo, para voltarmos a ter para todos o nosso alimento, na sua função de nutrição. É tempo de reivindicar o nosso “bom alimento” – Vanda Shiva.

Este artigo, trata de prevenção, não de cura: de alimentação saudável. Não falaremos de dietas curativas que necessitam de um foco mais específico, porque a doença é filha do desequilíbrio e, com a prevenção e o conhecimento adequados, podemos evitar muitos desses desequilíbrios.

Pontos mais importantes de uma dieta equilibrada,

em harmonia com o meio ambiente:

1. OPTAR POR ALIMENTOS VERDADEIROS, PREDOMINANTEMENTE DE ORIGEM VEGETAL.

Um alimento verdadeiro é uma substância íntegra, que não sofreu transformações industriais, isto é, que não foi modificado artificialmente: cereais integrais, leguminosas, sementes, frutas e vegetais de estação, cultivados de maneira orgânica; produtos de origem animal provenientes de quintas ecológica que respeitem os ritmos vitais dos animais; peixe de pesca sustentável …

Saudáveis e verdadeiros são também os alimentos que foram secos, fermentados, marinados ou transformados por métodos tradicionais. Em contrapartida, não podemos considerar alimentos verdadeiros muitos dos produtos que, ainda que sejam vendidos como saudáveis em lojas de produtos naturais, foram processados industrialmente. Refiro-me a vários subprodutos de soja, a soja texturizada, hamburgers e wurtels veganos, as inúmeras galletes adoçadas com xarope de agave e outros adoçantes similares que foram refinados e processados. Numa dieta saudável, devem ser consumidos unicamente alimentos biológicos.

2. CONSUMIR ALIMENTOS DE ESTAÇÃO FRESCOS E CULTIVADOS NUM CLIMA O MAIS PARECIDO POSSÍVEL AO DA NOSSA RESIDÊNCIA.

A dieta ideal deve assegurar, pelo menos, um certo aporte de elementos biológicos frescos para nutrir a nossa energia defensiva e, se possível, devem ser autóctones, para fornecer a integração do indivíduo no ambiente em que vive. Só assim podemos conectar com o nosso envolvimento, coisa que não podemos levar a cabo se, na nossa dieta, a maioria dos alimentos vierem de longe ou de outra tradição. As técnicas de conservação/armazenamento, como a refrigeração, a congelação, etc., fazem com que os produtos, sobretudo os vegetais, cheguem às nossas mesas privados daquela “qualidade biótica” que representa a sua energia como ser vivo. Esta qualidade biótica consiste num aporte energético básico para o nosso organismo, já que está em relação directa com a “aura” o “halo energético” dos alimentos (energia Wei), que se perde progressivamente no decurso do tempo. Wei é a energia defensiva, a que estimula e sustenta o sistema imunitário, pelo qual, somente os produtos frescos poderão garantir ao nosso organismo as defesas adequadas, realizando a sua capacidade neutralizante face às influências exteriores. Da permanência da energia Wei nos alimentos depende a sua capacidade de conservação.

Consumir alimentos de estação é fundamental para criar harmonia com o meio ambiente: a natureza oferece-nos, a cada momento, justamente o que necessitamos para que essa adaptação seja completa. Consumir alimentos fora da sua época significa introduzir no nosso organismo energias pouco adaptadas ao momento que estamos a viver, criando as bases de um desequilíbrio e da doença. Outro factor que nos debilita é a presença na nossa dieta de alimentos exóticos, não aptos para o clima em que vivemos. Este factor agrava-se quando se trata de um alimento fresco (fruta, por exº) transportado em câmaras frigoríficas durante longas distâncias.

Para enfatizar a harmonia com o meio ambiente, quem viver junto ao mar poderá fazê-lo consumindo algas marinhas, verdadeiros concentrados de água do mar; quem viver na montanha deverá alimentar a sua energia com alimentos silvestres, como cogumelos, castanhas e frutos do bosque. Os alimentos silvestres, como os cogumelos, as plantas, os vegetais, os frutos do boque, a água bebida do próprio poço, etc., contêm uma quantidade de energia telúrica sumamente maior inclusivamente à dos alimentos biológicos cultivados pelo homem.

3. CONSUMIR NA SUA MAIORIA ALIMENTOS EQUILIBRADOS.

Se consumirmos alimentos mais centrados da lista yin-yang (**), sentir-nos-emos muito menos atraídos por alimentos extremo yin ou extremo yang. Se comermos cereais integrais, leguminosas ou peixe, a nossa necessidade de yin satisfar-se-á com vegetais doces ou fruta, enquanto que, se consumirmos carne vermelha ou queijo curado, facilmente iremos desejar acompanhá-los com um copo de vinho, um gelado ou uma sobremesa açucarada, para compensar. Se salgarmos demasiado os alimentos, necessitaremos de adicionar mais óleo/azeite e vinagre para equilibrá-los. Os alimentos afastados do centro consumir-se-ão, portanto, ocasionalmente e equilibrando-os sempre com alguma substância de carácter complementar, mas não extrema. Se compensarmos um bife grelhado com um gelado (ainda que não tenhamos desejos disso), teremos de voltar a algum yang extremo para restabelecer o equilíbrio e isso leva a um círculo vicioso sem fim. Quando consumimos alimentos de origem animal, é necessário ter em conta três regras fundamentais: 1) comer uma quantidade muito reduzida; 2) acompanhá-los de grandes quantidades de vegetais e de frutas que em parte anulem as substâncias nocivas produzidas pela combustão das gorduras e das proteínas animais, evitando assim que organismo se acidifique; 3) reduzir ou evitar a ingestão dos vegetais mais yang, como cereais integrais e leguminosas ao mesmo tempo da proteína animal.

4. RESPEITAR PROPORÇÕES E QUANTIDADE.

“Nada na natureza é veneno; é a quantidade que transforma uma substância em veneno” – Paracelso.

Se tivermos em conta o número e o tipo de dentes que a Natureza nos proporcionou, constataremos que temos apenas 4 caninos aptos para comermos carne, contra 20 destes – entre molares e pré molares – específicos para moer cereais, raízes e sementes, além de 8 incisivos para os vegetais. Ao contrário do que se passa actualmente, as proteínas animais deveriam constituir no máximo 1/8 da nossa dieta quotidiana. Se respeitarmos esta proporção, não só não seriam nocivas, como nos fornecerão os nutrientes que uma dieta equilibrada e completa exige, sem recorrermos a alimentos integradores. É a quantidade que acaba esgotando a capacidade de alquimia da nossa maravilhosa máquina humana. A quantidade na nossa sociedade prevalece sobre a qualidade, mas há que conseguir que nos alimente mais, seja a nível energético ou físico - uma pequena e feia maçã recém colhida da árvore, alimenta-nos mais que 10 formosas maçãs amadurecidas em câmaras frigoríficas, compradas nos supermercados.

Em segundo lugar, tratando-se também de um alimento saudável e equilibrado se o consumirmos em excesso, torna-se prejudicial, já que comer em excesso esgota os órgãos e os diferentes sistemas do nosso organismo. Se comermos mais do que o necessário, criamos uma estagnação, e produzir-se-á uma digestão mais lenta. Como consequência disso, aparecerá distensão e cansaço depois de comer, já que a nossa fisiologia ocupar-se-á de digerir este excesso de comida. Michio Kushi costumava dizer que “é menos prejudicial comer pouco seguindo uma dieta normal, do que comer muito comendo uma dieta macrobiótica”. Deveríamos levantar-nos da mesa com um pouco de fome – essa sensação desaparecerá completamente em pouco tempo. Sentir-nos 80% cheios, sugeria Ohsawa.  

5. REDUZIR A INGESTÃO DE PROTEÍNAS E GORDURAS ANIMAIS.

Ao contrário de muitos colegas, a quem muito respeito, em geral e se não houver necessidade temporal para o fazer, não sou partidária da dieta vegana a longo prazo, ainda que considere que a proporção de alimentos de origem animal consumida deva ser muito reduzida e adaptada à condição de saúde de cada indivíduo. Deve-se limitar a quantidade e que seja de proveniência estritamente biológica, para evitar a superabundância de antibióticos e hormonas, dando preferência ao peixe, que é anti-inflamatório. Recordemos que os alimentos de origem animal, ao serem inflamatórios (excepto o peixe) e acidificantes, devem ser equilibrados com grandes porções de alimentos alcalinizantes e anti-inflamatórios. É suficiente muito pouca proteína animal - de 5 a 15% da nossa ingestão total de acordo com a condição de saúde pessoal -, o que nos fornecerá todos os nutrientes que necessitamos sem ter medo e recorrer a integradores, evitando assim os produtos mais extremos, como enchidos, carnes vermelhas, fumados, queijos curados e, sobretudo, acompanhando aquela pequena porção com muita quantidade de alimentos vegetais.

A propósito da dieta vegana, queria também dizer que, para as pessoas que vêm de um passado de abuso de proteínas animais, uns anos de dieta vegana é muito aconselhável, já que ajudará a elimina os excessos acumulados e fará com que reconsideremos os nossos hábitos alimentares, voltando depois a consumirmos tais alimentos com consciência e na sua justa medida. Ao falarmos de dieta e saúde, há que enfatizar que as dietas veganas são, na sua maioria, muito desequilibradas: só, e nem sempre, cumprimos com o critério ético de não prejudicar os animais e o ambiente; não são, em vez de e em geral, dietas equilibradas e saudáveis (***). Com o tempo, debilitarão muitíssimo o organismo. Assim, se seguirmos uma dieta vegana, devemos considerar a macrobiótica vegana, que tem em conta não só a ética, mas também o equilíbrio entre os alimentos.

6. ELIMINAR É MAIS IMPORTANTE DO QUE ADICIONAR.

Eliminar da nossa alimentação os alimentos “prejudiciais” é mais importante do que adicionar aqueles que consideramos serem saudáveis. Muitas pessoas pensam que “comem bem” porque consomem sopa de miso, cereais integrais e outros alimentos que catalogam como “saudáveis”, mas continuam a seguir com os costumes que tinham antes: não se libertam do consumo excessivo de produtos de origem animal ou produtos refinados, não renunciam à sua dose diária de vinho, bebidas alcoólicas, cigarros ou cerveja e autojustificam-se demasiado com frases do tipo “é só quando saio com os amigos”. Se isso for verdade muito ocasionalmente, nada irá acontecer. No entanto, cuidado com os autoenganos.

7. RESPEITAR O RELÓGIO BIOLÓGICO E CRIAR UMA ROTINA. (****)

Numa alimentação saudável, também é importante a distribuição dos horários das refeições.

É um erro saltar o pequeno-almoço: a energia Qi nutricional está em níveis altos em torno do baço e do estômago das 7 às 11 horas da manhã. Este é um horário em que podemos digerir muito eficazmente os alimentos que ingerimos e transformamos em energia a utilizar durante o dia. Saltar o pequeno-almoço pode causar desequilíbrios ao nível do açúcar no sangue e fará co que o nosso organismo acumule reservas (instinto de sobrevivência) em vez de as libertar. Assim, se pensarmos perder peso, obteremos o seu contrário. O velho ditado “comer de manhã como um rei, ao meio-dia como um príncipe e à noite como um pobre”, está seguramente correcto, ainda que, pessoalmente, aconselhe a comer ao pequeno-almoço como um príncpe e ao almoço como um rei. De facto, quando nos levantamos, os nossos órgãos estão ainda a despertar, e, exigir-lhes um trabalho demasiado intenso pode ser contraproducente. A Ayurveda, que tanto indagou sobre o relógio biológico, equilibra o nosso Sol Interno (o fogo digestivo ou Agni) com o Sol Externo. É ao meio-dia quando o Sol tem mais força e, da mesma forma, que nosso Agni está mais activo. Assim, temos a máxima força digestiva nas horas do meio-dia e é nesse momento que deveríamos consumir comida mais abundante. Depois do pôr do Sol Agni também se apaga e com ele a capacidade do nosso metabolismo dividir nutrientes e assimilá-los. Assim, o jantar deverá ser o mais cedo possível e muito ligeiro, só assim não se criarão estagnações. Muitos problemas digestivos provêm não só daquilo que comemos, mas também de como comemos, incluindo jantar tarde. O refluxo gastroesofágico, a acidez do estômago, a ansiedade pela comida, os gases, a flatulência, etc. são todos eles problemas que têm origem nos maus hábitos alimentares.

Procurar regularidade nos nossos costumes e nos horários das refeições, levantar-se ou deitar-se mais ou menos à mesma hora, arranjar tempo para fazer exercício físico durante o dia e um espaço para meditação são, entre outras actividades rotineiras, ferramentas que nos permitem retornar ao nosso centro.

Repetir um Mantra recitado mantendo as mãos abertas sobre o prato para energizar a comida e dar graças por ela é uma rotina maravilhosa.

8. EVITAR COMER À PRESSA.

Comer depressa, assim como as refeições irregulares, empobrecem o fluxo vital do baço e do estômago, já que não os deixa ter tempo para digerir os alimentos e causa estagnações aos seus Qis; o mesmo se passa ao comermos em pé. É melhor não misturar comida e trabalho; a nossa digestão funciona melhor quando está focada em disfrutar da comida não nos distraimos com outros estímulos ou factores. Assim, é melhor fazer com que o tempo em estamos a comer seja um momento de descontracção em vez de tentarmos ler ou ver TV ou fazer negócios. A mastigação deve ser tranquila e lenta, triturado perfeitamente os alimentos antes de os engolir. Mastigar bem reduz o trabalho dos nossos órgãos e aumenta a absorção dos nutrientes. Esta função, além de assegurar uma digestão fácil e óptima, ao ser a boca a porta do sistema digestivo, tem as suas explicações energéticas; de facto, a saliva, está carregada de energia elecromagnética e somente uma atenta mastigação irá permitir ao Qi misturar-se com os alimentos. A amílase salivar que decompõe os hidratos de carbono complexos, provenientes dos tubérculos, raízes, cereais integrais e leguminosas, inicia esse longo processo digestivo que os vai converter pouco a pouco em glicose para nos fornecer energia. Mastigar correctamente até que o alimento se torne cremoso ajuda a estabilizar os níveis de glicose e diminui o stress e o trabalho do estômago; tem um efeito calmante e relaxante que promove a estabilidade emocional e finalmente evita inchaços e fermentações intestinais. Aquece ou esfria o alimento, levando-o à temperatura corporal porque assim dá menos trabalho ao estômago e ao baço e ao começo do peristaltismo no cólon, ajudando a regular s intestinos. Mastigar bem ajuda também a não engordar: estimula no intestino a produção de neuropeptídeos que induzem o sistema nervoso a reduzir o apetite. Permite-nos acalmar, desfrutar da comida e conectar com o processo da nutrição com agradecimento e consciência. Ohsawa dizia que o facto de se mastigar muito estimula os Charas Superiores e é um dos vários motivos pelo que associava a Macrobiótica Zen ao regime dos mosteiros Zen, o Syozin Ryori, “cozinha que melhora a compreensão”. Manter uma atitude tranquila às horas das refeições provoca, além do mais, que todas as nossas reacções durante o dia sejam mais pacíficas e controladas. Umas palavras de agradecimento ou um Mantra recitado antes de comer, ajuda-nos a centrar no momento presente (o aqui-agora, NDT), tornando a nossa atitude mais consciente e tranquila. Para isso, devemos juntar as palmas das mãos e apoiá-las no centro do peito e a seguir recitar o som “suuuuuuu”. “Su” é o som da harmonia, acalma-nos imediatamente e serve para nos harmonizar com o alimento que temos à nossa frente.

 

9. UTILIZAR O BOM SENSO/SENSO C0MUM.

Isto significa ter a humildade de aprender com as tradições, que normalmente unificam a sabedoria e a experiência e não nos deixarmos doutrinar ou ser levados pelas modas do momento, a miúde privadas de fundamento e de bom senso.

10.  FINALMENTE, NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM.

“Não devemos curar os olhos sem curar a cabeça inteira; nem a cabeça, sem curar o corpo. Além disso, não devemos curar o corpo sem curar a alma. Este é o motivo pelo qual os médicos desconhecem a cura das doenças: porque eles ignoram o Todo. Uma parte específica do corpo não pode estar bem se o Todo não estiver bem”. Platão.

A cura do corpo - que inclui o exercício físico regular, além da dieta – deve ir em unidade com o controlo da mente, à abertura do coração e ao cultivo do espírito. O que introduzimos na nossa mente e no nosso espírito por meio de como pensamos, actuamos, partilhamos ou vemos é tão importante como o que introduzimos no nosso organismo em forma de alimento.

Estudos recentes demonstraram que com a nossa actividade espiritual podemos modificar o ADN, podemos ligar ou desligar com a meditação determinadas células.

Com a meditação, reduz-se a actividade dos genes que causam inflamação e temos visto como o estado inflamatório crónico está ressente em muitas doença como o Alzheimer, a diabetes, o enfarte e o cancro.”

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·         (*)- IN: “QUE EL ALIMENTO SEA TU MEDICINA. La dieta mediterránea a la luz del Yin y el Yang” – Clara Castellotti – dilema EDITORIAL, 2022.


(**)- 


·         (***)-   IN: “Alimentación y salud integral para niños” – Clara Castellotti – dilema EDITORIAL, 2010.


·         (****)-    


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