(“Ode” ao arroz)
“Experimente
comer arroz integral durante 10 dias
e
compreenderá o porquê dos antigos asiáticos
acreditarem
que a divindade
se
esconde nos grãos de arroz”
Dr.
Martin Macedo
ARROZ
Por: Miguel Boeiro
Observo
sempre com muita curiosidade a vegetação das terras por onde deambulo nas
minhas viagens. Depois escolho uma das plantas encontradas, por uma questão de
mera simpatia ou por a julgar mais significativa, para ser o alvo das minhas
investigações botânicas.
Ora,
estando mais de um mês no sul da China (ilha Hainan), qual foi a planta que aí
encontrei mais abundante e representativa? Já calculam! Foi a do arroz, cereal
que é a base da alimentação de 1.400 milhões de chineses e de mais de metade da
população mundial.
O arroz sempre me apaixonou e tenho para com ele
um carinho e uma afinidade que vêm dos tempos de menino. O meu pai, embora
analfabeto, concentrava um conjunto de saberes ancestrais e misteriosos que
recebeu oralmente dos antepassados. Um dia, já perto do Natal, que para ele
nada tinha a ver com o consumismo da festa da cristandade, trouxe da Barroca
d’Alva umas sementinhas castanhas que colocou num pires com alguma água.
Curioso, como sempre fui, todos os dias ia ver as sementes e acompanhei
radiante a sua rápida germinação. Nasceu uma pequena seara de um verde tão
bonito e mimoso, como jamais vira. E aí logo me dei conta de que estava perante
algo imensamente mais sagrado do que os “meninos-jesuses” de todo o mundo, uma
vez que “pais-natais” ainda não havia naqueles idos (que me desculpem os
crentes mais radicais).
A sensação do arroz como planta sagrada, tive-a,
de novo, na China profunda, ao ver as searas amorosamente cuidadas e enquanto
ia comendo arroz três vezes por dia durante um largo mês. Definitivamente, fiquei
fã do arroz.
Há meia dúzia de anos comprei um livro que
descrevia, tim-tim por tim-tim, este afamado comestível, terminando com dezenas
de receitas. Emprestei-o a alguém e não voltei a reavê-lo. Paciência! Que a
esse alguém lhe faça bom proveito, são os meus votos sinceros. Recordo, no
entanto, que lá se referia o nosso país como o maior consumidor europeu do
precioso cereal: 17 kg por ano, per
capita. A seguir vinha a Espanha com 9 kg e muito atrás, todos os outros.
Num almoço ocasional com o embaixador da Coreia do Norte perguntei-lhe, qual
seria o consumo médio por pessoa na RPD da Coreia. Fez umas contas rápidas e de
imediato me respondeu: 150 kg!
Existem cerca de 8 mil variedades de arroz, mas
basicamente elas integram sete espécies, sendo a mais conhecida a Oryza sativa (arroz asiático). Cada vez
mais apreciadas são as variedades perfumadas, como o basmati, o jasmim, o vermelho e o dourado, este, manipulado geneticamente. Entre nós, as mais
conhecidas são o carolino e o agulha.
Como se sabe, o arroz é uma gramínea de origem
asiática. Julga-se que é usado como alimento há perto de 7 mil anos, fazendo
parte do quotidiano dos países orientais que são, de longe, os seus principais
produtores e consumidores.
A planta tem um cultivo anual em terras alagadas,
mas pode sobreviver por vários anos nas regiões tropicais.
O arroz é um dos alimentos mais equilibrados que
se conhece. Contém hidratos de carbono, proteínas, vitaminas B1, B2, B3,
cálcio, magnésio, manganés, fosforo, zinco, ferro, proteínas, pouca gordura e
nenhum glúten. No que respeita às proteínas, é certo que não possui a
totalidade dos aminoácidos essenciais, mas combina muito bem com todas as
outras fontes proteicas.
O arroz integral, ou seja, o arroz em que apenas se retira a casca exterior (celulose),
ficando com uma película fina acastanhada, é o melhor para uma nutrição
saudável. Essa película contém fibra e maior quantidade de proteína e de
gordura, alimentando muito mais. Se bem mastigado, é de fácil digestão, combatendo
o colesterol, a arteriosclerose, a diabetes, a prisão do ventre e outras
disfunções do aparelho digestivo. Além disso, contém selénio que é um
antioxidante natural que beneficia o sistema imunológico. Quem consome apenas
arroz normal, leva algum tempo a habituar-se ao integral, mas depois acaba por
o achar mais saboroso que o chamado arroz branco.
Quanto
às formas de cozinhar, elas variam muito, de país para país e de região para
região. Na China o arroz é cozido a vapor o que, de entre outras vantagens,
fica mais a jeito para ser comido com os tradicionais pauzinhos, como aliás, sempre
assim fiz.
Para
mim, que gosto dele bem cozido mas não empapado, a melhor maneira é usar o forno
solar: uma parte de arroz para três
de água, um pouco de azeite e uma pitada de sal, sol que baste e passadas 2 horas,
está pronto. Vantagens: não
esturra, não pega, não endurece e é claro, não se despende energia elétrica nem
gás, o que, em tempos de aguda crise, não é de somenos.
Miguel Boieiro