Sunday, March 2, 2025

 

CONVENCER SEM FALAR

Dr. Martín Macedo

O povo Hunza foi descoberto em 1910 pelo médico britânico Mac Carrison. Constituído por 30.000 habitantes distribuídos por pequenas aldeias, os Hunza vivem a uma altitude média de 2.000 metros acima do nível do mar, no extremo Norte do Paquistão, próximo da fronteira com a Índia, Tibete e Rússia. Apesar de estarem rodeados por povos asiáticos os seus traços físicos, segundo os observadores correspondem aos de um europeu médio. Diz-se que um grupo de sobreviventes do exército de Alexandre Magno se refugiou nesta zona montanhosa, de muito difícil acesso e ali se estabeleceram. Estão totalmente isolados de outras regiões povoadas. Têm de percorrer 500 Km de distância para chegar a um centro povoado e como viajam a pé a dita viagem leva-lhes cerca de um mês a percorrer. Agarram-se obstinadamente ao seu modo de vida e costumes. Mac Carrison tendo feito um levantamento da situação sanitária das colónias britânicas na Índia, chegou a esta zona limítrofe e não encontrou ali nada que lhe chamasse a atenção. Como quase todos os outros médicos procurava registar as doenças prevalecentes nos povos que visitava. E no povo Hunza não havia nenhum doente. No entanto, muitos anos depois, reflectindo sobre a inexplicável ausência de doenças nessa região do mundo, voltou e investigou a fundo o seu modo de vida, procurando uma explicação para esta surpreendente ausência de doenças. Esta gente vivia com facilidade até aos 120 anos e inclusivamente até aos 140 anos. Os homens procriavam até aos 75 anos e os anciãos não viam diminuir nem a sua visão nem a audição. Mantinham a sua dentadura intacta apesar da sua idade avançada e ocupavam-se dos trabalhos agrícolas com um coração forte até aos 110 anos. Não existiam doenças mentais e salvo alguma fractura ou febre curta e intensa, como pôde constatar, nunca adoeciam. O seu carácter era alegre e conciliador. Segundo os relatos de Mac Carrinson não se encontraram condutas criminosas entre os Hunza. Esta gente gozava de uma saúde extraordinária, muito superior à saúde média no mundo desenvolvido. Existe um filme que mostra o povo Hunza. Tornaram-se famosos cerca de 1960 quando começaram a chegar turistas e curiosos de todas as partes do mundo. Como Mac Marrison estava convencido que esta saúde extraordinária se devia ao modo de alimentação deste povo decidiu quando regressou a Inglaterra fazer uma experiência dietética, para provar a sua teoria. Alimentou dois grupos de ratos com dois tipos de dietas diferentes: a um grupo com a dieta típica londrina e ao outro grupo com a dieta Hunza. O primeiro grupo de 1.200 ratos foi alimentado com pão branco, pratos doces, à base de farinha branca, compotas, carne, arenque, conservas, guloseimas e de vez em quando com leguminosas. A seguir a um tempo bastante prolongado desenvolveram as mesmas doenças crónicas dos londrinos, comprovando que também se tornavam agitados e agressivos. Alguns destes ratos acabaram por se devorar entre si.

Por outro lado, o outro grupo foi alimentado com alimentos típicos dos Hunza: trigo sarraceno, millet, trigo, cevada, lentilhas, damascos, maçãs, uvas, papas e muito pouca carne. Comprovou que no mesmo período de tempo estes gozavam de excelente saúde, reinando entre eles o entendimento. O seu comportamento era pacífico em comparação com o grupo nutrido com uma típica dieta urbana.

Os Hunza nunca adoecem. Se alguém visitar esta zona do mundo ou vir o filme não necessita ser convencido da eficácia do seu sistema de vida. Eles convencem sem falar. Não só pela sua extraordinária imunidade e fortaleza, mas também pelo seu carácter alegre e conciliador. Não há conflitos sérios entre eles. Parece um paraíso. Porém é real. Este nível de saúde não se encontra salvo raríssimos casos no mundo moderno. O que consideramos “saúde” no sentido comum é algo bem ténue comparado com a fortaleza extraordinária dos Hunza. Porque nunca adoecem. Nem um resfriado, nem uma gripe. As infecções provocadas por feridas ou outras causas curam-se sem medicamentos. Se tivermos um resfriado uma vez no ano ou se tivermos uma gripe em cada 6 meses estamos abaixo do nível de saúde dos Hunza. Se tivermos depressões ou ataques de pânico ou se nos cansarmos ao subir uma escada não estamos bem. Não convenceremos ninguém por mais que nos alimentemos com cereais em grão e outros alimentos saudáveis. Quem tem um tipo de saúde assim catequiza com o exemplo e não precisa de falar. O seu testemunho vivo é muito eloquente. A nossa macrobiótica é essencialmente similar ao sistema alimentar dos Hunza. Se a seguirmos firmemente não deveríamos adoecer nunca, ainda que ocasionalmente haja desvios. Até mesmo com desvios a nossa solidez física deveria ser para nunca adoecer. Devemos chegar a este nível de vitalidade para conseguir convencer sem falar. Os Hunza têm pouco dinheiro e empregam-no para adquirir tecidos e ferramentas para o seu trabalho. Eles trabalham duro fisicamente e não têm as facilidades da vida urbana. Mas nós somos citadinos. Estamos rodeados de ajudas técnicas que “elevam o nosso nível de vida” e o de um sem número de alimentos falsificados. Somos pressionados socialmente para que os consumamos e a publicidade empurra-nos constantemente para que entremos no carrossel do consumismo. Mas se formos capazes de atingir o nível de saúde dos Hunza vivendo em centros urbanos então somos mil vezes maiores que os Hunza. Esse é o nosso objectivo. Seremos mil vezes mais felizes que eles se conseguirmos viver em sociedade e ao mesmo tempo ter um nível de saúde extraordinário. Para isso necessitamos de uma enorme vontade. E temo-la em estado embrionário. Se não desenvolvermos a vontade, a prática da macrobiótica terá pouca eficácia. O ideal seria primeiro educar a vontade e depois iniciar a macrobiótica. Mas às vezes não há tempo e devemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Então, se tivermos êxito seremos realmente grandes. Por isso a glória macrobiótica é tão gloriosa. A vontade é uma força. Essa força pode aumentar ou diminuir. Sempre há duas opções e como tudo muda não podemos viver sem optar. A vontade faz parte da vida. Quem tem vida tem vontade. Vitalidade é vontade. As pessoas com mais vitalidade são mais voluntariosas. Mas ninguém carece completamente de vontade, a menos que esteja morto. A vontade surge da tomada de consciência. Os mestres espirituais hindus, dizem que a vontade aumenta com a atenção. Estar atentos ao que estamos fazendo é um exercício de vontade. E a meditação é exercício da atenção, porque devemos atender à respiração e à postura. Podemos estar atentos se decidirmos fazê-lo. Ao exercitar a atenção fortalecemos a vontade. A cada momento estamos a decidir ao que vamos prestar a nossa atenção. Se concentrarmos a nossa atenção na cura obteremos a cura. A necessidade premente de nos curarmos obriga-nos a concentrar as nossas forças interiores (atenção e vontade) no processo curativo. Por isso Ohsawa dizia que os doentes graves se curavam mais depressa que os doentes leves. Porque praticam mais seriamente. Então, a doença é uma grande oportunidade, e deveríamos vê-la assim. Cada vez que temos uma crise, surge uma forte determinação de a superar. Portanto, crise é progresso. Se procuramos uma vida fácil e cómoda as nossas forças interiores dispersarão. Só através das dificuldades surgem as nossas grandiosas forças interiores que nos permitem alcançar os nossos sonhos. Todos fogem do difícil. Mas devemos aceitá-las como prendas do céu. Só nas profundezas das dificuldades encontraremos o manancial da nossa força infinita. E como as situações difíceis abundam, devemos aproveitá-las para temperar a nossa vontade. Face a uma dificuldade, podemos fugir ou podemos aceitar. É nossa a escolha. Quem tem sabedoria compreende que o avião só levanta voo com o vento contra. Se quisermos subir alto na vida, devemos aproveitar os ventos contrários e não nos cansarmos de dar graças. Porque estes ventos difíceis são a origem da nossa força invencível. E como no Universo não há limites, a nossa força tão pouco conhece limites. Podemos ser tão grandes como decidamos sê-lo, porque a nossa vida é infinita. Então, poderemos convencer sem falar.

 

  O que ao santo reza, do santo come Elena Corrales -   Salud 6 fevereiro, 2023 https://www.elenacorrales.com/blogelenacorrales/el-que-a...