OS SIGNIFICADOS DOS ALIMENTOS
... os excessos ...
... e Festas Felizes para todos!
Drª Elena Corrales
Hoje gostaria de partilhar
convosco uma reflexão sobre os diferentes significados que o acto de comer tem,
precisamente tendo em conta as datas que se aproximam e que têm um denominador
comum: o excesso.
A nossa atitude em relação à
comida e ao que ela representa nas nossas vidas mudou profundamente, tanto que
no passado comíamos para viver e agora vivemos para comer.
No início do século passado, a
maioria da população produzia directamente os alimentos que consumia, excepto as
classes sociais mais altas. Actualmente, porém, menos de dois por cento da
população mundial dedica-se à agricultura. Esta é a primeira vez na história
que uma mudança tão radical ocorre: deixámos de ser produtores para ser
consumidores de alimentos, e isto mudou completamente o significado da
alimentação.
No passado, o alimento tinha dois
significados básicos, o da sobrevivência e o da ligação à terra, à natureza, à fonte e à origem. O primeiro significado é mais económico e o
segundo, mais espiritual e psicológico.
Nas culturas tradicionais o
alimento era reverenciado, na nossa cultura o pão benzia-se e até há bem pouco
tempo beijava-se. O cereal representava o sagrado que está na ordem natural.
Mas havia também um terceiro
significado da comida: a celebração. Nos dias de festa, a comida representava
diversão, alegria e abundância. Estes eram os únicos dias em que os alimentos
de luxo se comiam; muitos dos nossos anciãos ainda se lembram como se comia
o frango nas ocasiões festivas especiais.
1. A COMIDA COMO SOBREVIVÊNCIA
Na sociedade de hoje, o primeiro
destes significados já não existe. A fome não desapareceu, muito pelo
contrário. Mas o significado da comida como sobrevivência não está relacionado
com as culturas, mas sim com o dinheiro. Os pobres do mundo não passam fome por
falta de alimentos, mas sim por falta de dinheiro. Assim, perdemos a referência
da proveniência dos alimentos.
2. A ALIMENTAÇÃO COMO ELO DE LIGAÇÃO COM A TERRA
Com o segundo
significado houve uma grande distorção, o aspecto espiritual desapareceu, o pão
já não é abençoado e é deitado para o lixo sem qualquer reflexão e ouvimos
frases como "não comas pão que te torna estúpido".
Ao mesmo tempo, o aspecto
psicológico aumentou de forma caótica, de modo que mais de metade da população
dos países ricos sofre de distúrbios alimentares e come por ansiedade, para
preencher os seus vazios existenciais, como refúgio face à sua insegurança,
etc.
3. A COMIDA COMO
CELEBRAÇÃO
O terceiro significado tem
aumentado desproporcionadamente. Actualmete, o alimento é basicamente algo que
dá prazer, representa diversão e entretenimento.
A comida é concebida
exclusivamente como uma fonte de prazer sensorial e comemos todos os dias como
se fosse festa. Comemos diariamente alimentos que tradicionalmente foram um
luxo e em quantidades excessivas.
É por isso que quando chega a
época festiva, em vez de vivermos o verdadeiro significado da celebração, que é
comer em união e celebrar, chegamos à mesa saturados de jantares pré-natalícios
e almoços de negócio.
O facto de sermos omnívoros e
termos um elevado poder de compra não significa que possamos comer qualquer
alimento em qualquer quantidade e em qualquer altura do ano. Portanto, estes
dias que são de fazer o balanço do que vivemos durante o ano e fazer planos de
saúde e prosperidade para o próximo ano, seria uma boa altura para reconsiderar
a nossa atitude em relação ao acto de comer.
Boas festas para todos(as) vós!
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