DIÓSPIRO - alimento de outono
“Tem muitas propriedades úteis para quem quer preservar a saúde através de métodos naturais, mas os diabéticos devem evitá-lo
por ser excessivamente doce” – Miguel Boieiro
Um dos frutos mais bonitos e benéficos do Outono é o brilhante dióspiro laranja-avermelhado.
O dióspiro, cientificamente conhecido por Diospyros kaki, é originário da China e é cultivado desde o século XVII.
É possível consumir-se este fruto de diversas formas, contudo devemos privilegiá-lo sob a sua forma natural, de modo a conservar as suas propriedades nutricionais. Prefira-o muito maduro, de forma a atenuar a sensação de adstringência – esta sensação deve-se à presença de taninos (que se encontram em maior número quando o fruto não está maduro).
Existem dois tipos de dióspiro que são diferenciados pela sua forma de consumo:
• Dióspiro “de roer” - Tem a polpa mais rija, é alaranjado/amarelado e poderá ser consumido como uma maçã, mas também em saladas, com iogurte, em sumos naturais, em gelados ou compota. Há ainda quem o consuma assado com um pouco de canela.
• Dióspiro “de abrir” - Tem a polpa mole, é avermelhado e é nutricionalmente mais rico em taninos (antioxidantes). O dióspiro de polpa mole poderá ser cortado ao meio e consumido com uma colher.
Em português se diz dióspiro, tal e qual como na língua helénica, enquanto em espanhol, italiano, francês, finlandês, sérvio, bósnio, japonês e noutras, se diz caqui.
O dióspiro, ou caqui, ou ainda, persimmon, como proferem ingleses e alemães, é o fruto de uma pequena árvore da família das Ebenaceae, cuja designação científica é Diospyros kaki. Tal árvore, oriunda da China e arredores, era considerada exótica e só nos últimos séculos começou a ser cultivada na Europa e na América. Os navegadores portugueses foram os primeiros europeus a alcançar terras orientais e porventura, talvez também os primeiros a conhecer os dióspiros que os chineses comiam como frutos secos. Daí, no século XVII, algumas alusões aos “figos chineses” que lembrariam, pela forma e sabor, os nossos corriqueiros figos passados.
A China continua a deter a liderança no que respeita aos Diospyros kaki, com mais de 50% da produção mundial, totalizando mais de 3 milhões de toneladas por ano.
O diospireiro tem folhas simples, alternas, pecioladas, elípticas ou oblongas, brilhantes e um pouco coriáceas, de cor verde que no outono passam a vermelho e caiem completamente.
As flores são pequenas, brancas amareladas e actinomórficas. A espécie é dioica. As flores femininas são solitárias, mas as masculinas surgem agrupadas em feixes.
Os frutos (dióspiros) formam bagas indeiscentes, endospérmicas, ovaladas com cálice persistente, amarelo-avermelhadas quando amadurecem, ficando na árvore mesmo quando a mesma fica despida de folhagem. Note-se que pode haver frutificação mesmo sem polinização, característica que se chama partenocarpia.
Neste caso, o fruto não tem sementes que são uma espécie de pevides castanhas. Em solo bem adubado cada árvore pode fornecer até 100 kg de frutos por ano.
Os dióspiros ainda não amadurecidos são intragáveis devido a conterem uma alta percentagem de tanino. Quando maduros, o tanino vai desaparecendo ficando moles, sumarentos e muito doces.
Os diospireiros apresentam uma enorme biodiversidade devido à capacidade de adaptação em diversas condições ecológicas, originando centenas de cultivares. O grande especialista José Mendes Ferrão na sua obra em três volumes “Fruticultura Tropical”, editada pelo Instituto de Investigação Científica Tropical, menciona, para além da espécie kaki que é a mais conhecida, mais uma trintena de espécies de Diospyros, todas com frutos comestíveis, algumas provenientes de países africanos.
Os dióspiros são ricos em tanino, betacaroteno, vitaminas B e C, potássio, ferro, magnésio, cálcio, fósforo, pectina, mucilagens e hidratos de carbono (frutose e glucose).
Ajudam a combater a hipertensão, o colesterol e as doenças cardiovasculares, melhoram a saúde da pele, dos cabelos e dos ossos, beneficiam a visão e favorecem o trânsito intestinal.
A madeira de todas as espécies de diospireiro é muito dura (lembremo-nos do seu parentesco com o ébano), atingindo valores elevados, tendo em vista a sua utilidade no fabrico de móveis, tacos para jogos de bilhar, “sticks” de hóquei e de golfe e ferramentas.
Os povos orientais preparam tisanas com as folhas secas do diospireiro graças à existência de polifenóis e ao seu potencial oxidante. Visam assim fortalecer os mecanismos imunitários e combater as doenças degenerativas.
Uma referência final às técnicas de polinização cruzada e de destanização (diminuição do teor de tanino) para reduzir a adstringência dos frutos e responder às exigências do mercado. Crescentemente foram alcançadas novas variedades de frutos mais rijos, com maior durabilidade e doçura.
Por todo o lado, eles acham-se hoje à venda nas grandes e pequenas superfícies comerciais, ao contrário do que acontecia há meio século
PROPRIEDADES MEDICINAIS
Os dióspiros têm sido utilizados pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC) há mais de 2.000 anos: o fruto, a pele, as folhas e o caule são excelentes.
O fruto avermelhado brilhante, em forma de lanternas chinesas redondas, é muitas vezes dado como presente de sorte para os recém-casados, simbolizando o amor eterno.
De acordo com a MTC, os dióspiros são carregados com energia fria (yin) e, portanto, são potentes na expulsão do calor patogénico. Estão carregados com antioxidantes, vitaminas A e C, fósforo, manganésio, iodo e outros elementos. São ricos em fibras e calorias.
A MTC diz que o dióspiro suculento e "frio" pode ajudar a promover fluidos, nutrir os pulmões, dissipar o calor patogénico, reduzir o sangramento interno e coágulos sanguíneos e ajudar o sistema digestivo.
É bom para ressacas e hemorroidas também. São usados para tratar a tosse persistente causada por calor patogénico nos pulmões, diarreia devido a um sistema digestivo fraco, pressão arterial alta, endurecimento das artérias e sangue na fleuma, na urina e nas fezes.
Além do fruto, beber chá dos caules e folhas pode ajudar a aliviar os soluços e a tosse, assim como pode ajudar a baixar a pressão arterial e tratar o endurecimento das artérias.
ALGUNS SENÃOS:
Já que é um alimento 'frio', as pessoas 'frias' não devem comer muito, pois pode causar diarreia;
Os diabéticos devem ter cuidado com seu alto teor de açúcar;
Os pacientes com anemia devem saber que o alto teor de tanino pode inibir a absorção de ferro;
Os portadores de gastrite crónica devem evitá-lo, pois o tanino pode perturbar o estômago;
Se você comer dióspiro, coma-o depois das refeições e descasque-o, já que a maior parte do ácido tânico (tanino) está na casca. Comê-los com o estômago vazio não é recomendado, pois o consumo excessivo pode causar pedras. Ninguém deve comer mais do que três de cada vez, porque eles contêm muita energia "fria".
Evite comer em simultâneo, tâmaras pretas, caranguejo, ganso, ovos, batata-doce e vinagre.