Sunday, January 5, 2025

 


Que comer e como fazê-lo

Na natureza existe uma ordem. Cada forma de vida necessita alimentar-se para continuar com a sua existência. Água, Sol, proteínas, minerais e outros nutrientes. Todas as formas de vida alimentam-se. Alimento é energia. Fonte de energia vital. E cada organismo está especializado para fazê-lo de uma forma única. Este processo de diversificação e especialização para a absorção do alimento é o resultado de enormes e extensos períodos.

Milhares e milhares de anos de evolução das diferentes formas vivas.

Assim, na família das aves, os pinguins estão adaptados a uma dieta de peixe e todo o seu corpo está perfeitamente desenhado para capturar peixe e assimilá-lo com suprema perfeição. A águia também é uma ave, uma prima irmã do pinguim, porém a evolução biológica de milhões de anos, gerou outro tipo de corpo perfeitamente adaptado à localização a grandes distâncias de pequenas presas e à sua posterior captura com ferozes garras. Pela sua parte, o colibri, também da família das aves, evoluiu como consumidor de pólen e busca nas flores a sua alimentação.

Todas são aves e cada uma limita-se àquilo que lhe toca dentro da ordem da vida. Como consequência não ficam doentes. E essa é uma manifestação da imensa “sabedoria” do instinto de sobrevivência dos animais vivendo em plena natureza.

O ser humano, também é um animal, e apesar de estar mais bem-dotado na evolução biológica, não está isento de respeitar aquelas normas da alimentação biológica. Todos os pinguins se alimentam na base do peixe, todos os búfalos se alimentam na base das ervas selvagens e todos os gorilas se alimentam na base de plantas e de frutos. E todos são felizes e saudáveis. Não há queixas nem protestos.

Quando o homem intervém querendo “ajudar” os animais fogem, não querem sair do paraíso no qual as suas espécies têm vivido felizes durante centenas de milhares de anos. Mas o ser humano crê-se muito preparado e dá aos animais alimentos “enriquecidos”, “melhorados” para que tenham um pelo mais bonito e forte e para melhorar o seu estado nutricional. E dá aos cães alimentos ricos em vitamina A e D, para melhorar esta ou aquela função biológica.

O homem por mais ilustre que seja é regido pelos mesmos princípios e as mesmas leis biológicas. Não deveria comer “de tudo”, simplesmente porque está saudável, ou porque “tudo lhe cai bem”. A anarquia, a desobediência à ordem natural é o que conduz à degeneração biológica e à eclosão de legiões de doentes crónicos. A macrobiótica convida-nos a descobrir os alimentos correctos na escala biológica e a como prepará-los e consumi-los todos os dias com prazer e gratidão.

Quanto ao que comer, a sugestão é utilizar os produtos que foram usados tradicionalmente no local. Mas alimentação tradicional não significa o que se tem usado nos últimos 200 ou 300 anos, mas sim o que se usou como alimento típico durante milhares de anos. Atualmente há muita confusão e já ninguém sabe com clareza o que é tradicional e o que é copiado de outras culturas. O ser humano adapta-se a todos os climas e a todas as latitudes.

Em zonas desérticas alimenta-se na base de leite de camelo e frutos que encontra no oásis. Essa é a forma que tiveram durante centenas de anos e seguem-na devotamente, acreditando que a sua raça e a sua cultura obtêm a sua força e energia destas tradições. Se os beduínos entrarem em contacto com a dieta das cidades e começarem a consumi-la habitualmente, perdem a sua base, a sua raiz e começam o seu declínio e a sua extinção.

Ao longo da história as grandes aglomerações humanas alimentaram-se de cereais. Arroz e trigo sarraceno na Ásia, millet e bulgur em África, trigo, cevada e aveia na Europa e no Médio Oriente e milho, quinoa e amaranto nas três Américas.

Os cereais têm sido a base da alimentação humana durante milhares de anos e nas zonas onde se cultivaram cereais floresceu a cultura e o desenvolvimento das ciências e tradições religiosas. Nas zonas onde os humanos se alimentaram de carnes (caça e recolecção) e frutos, a evolução intelectual-espiritual parou no Neolítico.  No pólo Norte, nas selvas tropicais e nas savanas africanas vivem robustos seres humanos que vivem da caça e recolecção, mas não consomem cereais como alimento base. Contudo não têm um calendário nem mapas das estrelas e astros do céu. Nem sequer têm escrita. Os cereais foram os geradores do desenvolvimento da humanidade. Não só trazem a saúde e a força para desenvolver e progredir para novos desafios, mas também permitem a conexão com as forças subtis que não chegam aos que se alimentam basicamente de corpos cozinhados de outros animais.

O ser humano ideal não é carnívoro nem vegetariano, mas sim “granívoro”. Por isso a nossa sugestão é a alimentação à base de cereais em grão integrais. Algumas culturas conservaram ferreamente a sua tradição da alimentação à base de cereais. Na Ásia a base é o arroz. Para os asiáticos o arroz é sagrado e por isso consomem-no em todas as refeições. Creem que os protegem das doenças e sustenta a sua peculiar tenacidade e espírito colectivo. Também os japoneses inconscientemente aferram-se às suas tradições dietéticas face à invasão das modas dietéticas europeias e dos estados unidos da América.  A base sempre foi o cereal. Um prato tradicional chinês, japonês ou indiano, tem como base o arroz, vegetais e proteínas vegetais e animais. Muita pouca carne e derivados animais. Ausência quase completa de leite e derivados do leite. A dieta é 80-90% de origem vegetal. Alguns pratos crus e a maioria são cozinhados segundo receitas tradicionais. Na América indígena a base sempre foi o milho, feijões, vegetais como batatas e outras hortícolas, especiarias e também pouca carne e derivados animais.

Actualmente, come-se na base da proteína animal. Perdeu-se a noção da base, do alimento principal. É esse o grande erro. E por isso a medicina só consegue alívios parciais e curas de duração efémera. A base é o cereal. O precioso cereal deveria ser 50-60% das nossas principais refeições. Porém, é imprescindível que seja integral e sempre que possível de cultivo orgânico (ou pelo menos não transgénico). Na maior parte dos países do mundo a soja e o milho são transgénicos. Aos meus irmãos latinos, e apesar de que a tradição indique que a base é o milho, desaconselho o seu consumo, a menos que seja evidente que a sua procedência seja de produção orgânica. No Uruguai 99% do milho que se vende em forma de farinha de milho ou fécula de milho ou óleo de milho ou em forma de choclos frescos têm origem transgénica. Os estudos e investigações científicas independentes indicam que produzem tumores em ratos. Mas os governos não dizem nada nem sequer rotulam as embalagens que têm alimentos com milho ou com base de milho, porque para eles o mais importante é a estabilidade das indústrias e a conservação das fontes de trabalho. Se rotulassem e as pessoas tomassem consciência dos perigos do milho transgénico, as vendas cairiam a pique, muitos empreendimentos quebrariam e muita gente ficaria sem trabalho. Ainda que isso implique o declínio da saúde da sua nação. A prioridade são os números, a “rentabilidade”. Mas tenho-me percebido que no Brasil a rotulação já está nos alimentos que contêm milho. Trata-se de um triângulo com um T no seu interior. É um grande avanço e uma mostra de respeito para com os direitos dos consumidores. Porém, por aqui, nesse sentido, todavia estamos na pré história. Mais tarde ou mais cedo, chegará. Porque nada nem ninguém pode parar MARÉ DAS MUDANÇAS.

Então podemos usar arroz integral como base ou então outros cereais como: millet, quinoa, cevada ou bulgur. Os cereais integrais levam mais tempo a cozinhar que os cereais refinados industrialmente. Há que praticar e praticar para conseguir uma boa cozinha macrobiótica ou saudável.  Empregaremos a expressão “macrobiótica” por convenção, para entender do que estamos a falar. 50-60% de cereais integrais bem preparados com água mineral e sal marinho. Devem ser muito bem mastigados inclusive até 80-100 vezes cada bocado até que o alimento fique com consistência líquida. Só assim nos asseguraremos que temos completado o 1º tempo digestivo, o tempo bocal. A saliva tem potentes acções químicas sobre os hidratos de carbono complexos, que abundam nos cereais. Os cereais têm no estado cru, um Ph levemente ácido. Porém ao cozinhá-los em fogo muito lento com um pouco de sal marinho e ao mastigarmos cuidadosamente, o seu Ph torna-se alcalino, sobretudo pela acção alcalinizante da ptialina. Face a uma gastrite, onde há uma inflamação permanente das paredes internas do estômago, a mastigação deve ser muito mais atenta e cuidadosa. O alimento deve então liquefazer-se completamente antes de ser deglutido. Em casos severos mastigar mais e inclusivamente 200 a 250 vezes cada bocado (para o arroz e cereais integrais). É só uma questão de HÁBITO, tudo se aprende se nos treinarmos. Desta forma o sabor de cada bocado será cada vez mais doce e alcalinizar-se-á tanto que inibirá a acidez gástrica. É interessante que os fármacos que se empregam na gastrite são em muitos casos alcalinos. O alcalino neutraliza e cura a acidez. Mas se em vez de alcalinizar com fármacos que têm custos económicos e vitais (e efeitos secundários) preferimos alcalinizar com uma dieta alcalina e muita mastigação. Também o sal marinho usado com moderação alcaliniza os alimentos e todos os fluídos corporais. Somos 80% de água alcalina, não 80% de água doce engarrafada. E o componente que invariavelmente está em todos os fluídos biológicos é o NaCl (cloreto de sódio). Ou seja, sal natural. Apesar da má propaganda que fizeram ao sal e ao medo pela sua suposta responsabilidade no aparecimento da hipertensão arterial. Não podemos viver sem sal. A hipertensão só ameaça os que se alimentam na base de derivados animais. Os verdadeiros vegetarianos não padecem de hipertensão apesar de usarem sal. Trata-se de outro mito, de outro paradigma errado. E a ponto de se derrubar.

O cereal é o alimento base. É a base da cura. Isto deve ser compreendido claramente. Sem cereal base não há cura. Não se trata de comer saudável ou natural. Trata-se de compreender que assim o estabelece a Ordem. O ser humano pode comer de tudo e assimilar quase tudo. Mas o maior nível de equilíbrio e saúde recebe-os do cereal. Por alguma razão temos 20 molares num total de 32 dentes. Os molares “moem”, como as mós de um moinho. Os moinhos “mastigam” o trigo e o convertem em farinha. Os nossos dentes são os nossos moinhos naturais. Mas não se limitam a triturar, a reduzir tudo a mínimos fragmentos, mas também o misturam com os factores bioquímicos que compõem a saliva, como enzimas, sais minerais e claro água, para que a papila esteja com o nível exacto de hidratação antes de “cair” na mucosa gástrica. Mas como queremos evitar esforços preferimos que o moinho mecânico faça o trabalho. E por isso todos nós gostamos de farinha. Branca, integral ou de mistura. Para evitar o esforço e o trabalho de mastigar inclinamo-nos para usar o cereal mastigado pela máquina. Mas a mastigação mecânica do moinho não chega ao nível óptimo da mastigação bocal fisiológica. Por isso é melhor comer grãos cozidos inteiros e mastigá-los do que comer grãos processados em forma de farinhas.  Podemos comer todo o volume de arroz ou cereais inteiros que desejemos sempre e quando o mastiguemos muito bem, e em caso de problemas digestivos, isto é particularmente importante.  Não há limites nas quantidades de alimento principal. Uma parte deste prato principal pode ser consumida em forma de subprodutos de cereais integrais, como bolos moídos, arepas, tortilhas de milho ou arroz ou pães e bolos. Sempre e quando o estômago o tolere. Em caso de impulso severo de gastrite todos os cereais deveriam ser consumidos em forma de grãos bem cozidos e tenros ou inclusivamente liquidificados em forma de cremes ou sopas. Logo que passe o impulso e melhorem os sintomas podem usar-se formas mais atractivas de consumir os cereais.

O cereal é sagrado para o ser humano. A sua correcta absorção, purifica-o, eleva-o espiritualmente, torna-o formoso e sábio. Dá-lhe um tipo de força vital subtil que outros alimentos não têm. Devemos estar profundamente agradecidos e emocionados cada vez que comamos o nosso arroz integral ou o nosso milho ou a nossa aveia. São os alimentos superiores para o homem e a ferramenta dietética mais poderosa para alcançar a cura da gastrite ou de qualquer outra doença. Compreendendo isto muito claramente, não comeremos nunca “mecanicamente” o nosso arroz, queixando-nos da pouca “variedade” ou da pouco gostosa preparação. Recorde o leitor que a minha sugestão é por uma grande paixão na arte de cozinhar. Se tiver mau sabor é porque não está bem preparada. Se estiver bem preparada com amor, com consciência, com intenção e com o adequado equipamento e experiência, o arroz e suas diferentes variações deverão dar-nos diariamente regalias e sabores requintados. E assim cada dia pode ser uma festa. Pelo menos assim é para mim e para milhões de seres humanos que comem uma dieta à base de cereal integral há dezenas de anos e com maravilhosos resultados. É, portanto, essencial comer e mastigar o arroz ou o millet ou a quinoa com essa consciência e com esse espírito de gratidão, amor e sentir-se um privilegiado por ter tido acesso a este ensino que nos catapulta para a felicidade e a realização do nosso completo potencial. Então a doença é uma chave, para abrir a nossa vida a enormes possibilidades. Por isso devemos estar sempre agradecidos e entusiasmados porque tudo o que venha agora, se continuamos praticando estas disciplinas será cada vez mais e mais poderoso. Despertamos. Somos seres humanos da mais alta categoria biológica e espiritual. Verdadeiramente humanos e, portanto, amantes da felicidade colectiva e de todas as formas de vida. E isto o “sentimos” espontaneamente, sem ter de pertencer a nenhuma fraternidade ou agrupamento filosófico. Simplesmente respeitamos a Ordem e isso de igual forma ao que se passa com os animais selvagens coloca-nos numa situação de privilégio aos olhos do Universo.

O resto dos alimentos que compõem o nosso menu dominam-se alimentos secundários. Incluem uma extensa variedade de vegetais terrestres e marinhos, leguminosas, sementes e frutos secos, frutas de estação, peixe magro e ovos do campo. Também uma variedade de condimentos e o uso de ervas medicinais. Todos estes detalhes deveriam ser recebidos numa consulta pessoal com algum orientador dietético adequadamente classificado e experiente. Porém, alimentando-nos simplesmente segundo estes directizes gerais poderemos curar a gastrite em aproximadamente um mês no máximo dois. Em alguns casos antes, dependendo da nossa vontade e entusiasmo e também do surgimento das emoções que geram a cura sem nos faltar: uma fé esmagadora e uma imensa gratidão.

Resumindo, deveremos alimentar-nos com um prato consistente de 2/3 de arroz integral e 1/3 de alimentos secundários. Dentro dos alimentos secundários, deve haver sempre vegetais cozidos e crus (numa proporção 3/4-1/4), algumas algas marinhas para dar cálcio, ferro, magnésio e outros sais vitais para uma saúde óptima, proteínas vegetais em forma de leguminosas bem cozidas, sementes levemente tostadas (sésamo, girassol, linho, nozes, castanhas, amêndoas, amendoins). Ocasionalmente (uma ou duas vezes por semana) um pouco de peixe branco e um pouco de fruta local fresca ou levemente cozida. Durante os impulsos o prato deve ser muito simples e estricto. Só arroz, sésamo e vegetais no vapor. A seguir aos impulsos, voltar a empregar uma variedade de sabores e texturas. É importante usar produtos fermentados para termos enzimas e bactérias que beneficiem a digestão, como os lacto-bacilos.  O melhor produto que conheço é o miso, uma pasta de soja usada há milhares de anos no Extremo Oriente. Também o molho de soja de boa qualidade e o tempeh. Se não for possível na nossa zona conseguir estes produtos usar pickles de vegetais em salmoura como o chucrute. Tudo deve ser muito bem mastigado e respeitando a proporção entre cereal e complementos. A inversão das proporções conduz a um excesso de yin e assim a inflamação da mucosa que também está muito yin, continuará inflamada apesar de estarmos comendo muito saudavelmente e muito macrobioticamente. A proporção, a mastigação, a qualidade dos alimentos e também as emoções correctas que conduzem à cura. É um pouco difícil ao princípio, mas se formos persistentes e estivermos determinados a curar-nos, em um mês ou no máximo em dois receberemos a grande caixa de primeiros socorros da cura. Melhor dito da auto-cura. E sentiremos a satisfação imensa de o termos feito nós próprios. Sem ajuda técnica. Apenas apelando às forças curativas da natureza. E a sua mais gloriosa síntese para o humano: o cereal, o bendito cereal ao qual não deixo de agradecer todos os dias da minha vida. E se fizerem o mesmo a vossa transformação fisiológica será imparável e poderosa. A cura começa na mente e sustenta-se com a mente. Leiam a vossa folha de propósitos/objectivos para afirmar a vossa determinação e programar o vosso inconsciente. Assim tereis 100% de probabilidades de ter êxito. E devereis escrever-me logo a seguir umas linhas contando-me da vossa nova vida saudável. Não duvidem. Vocês o farão. Repitam em voz alta por favor= Fá-lo-ei. Fá-lo-ei. Tenho o potencial e a vontade infinita. Obrigado. Obrigado. O Universo conspira a meu favor.

Dr. Martín Macedo - médico, Uruguai, 2013

 

 

 

  O que ao santo reza, do santo come Elena Corrales -   Salud 6 fevereiro, 2023 https://www.elenacorrales.com/blogelenacorrales/el-que-a...