Açafrão
A revista francesa “Alternatif
bien-être”, cujo subtítulo é, significativamente, “Le Journal d’Information
des Solutions Alternatives de Santé”, na sua edição de janeiro de 2016, traz um
desenvolvido artigo sobre o açafrão. A revista é revolucionária porque põe em
causa tratamentos e remédios utilizados correntemente pela medicina alopática,
através de argumentos razoáveis e é sempre com muito interesse que a recebo.
No tocante ao açafrão, observe-se
apenas as frases que encimam as várias partes do estudo: - Depressão: a arma secreta dos
médicos persas; a especiaria mais cara do mundo; as virtudes antidepressivas;
contrariar os transtornos sexuais; depressão dos adolescentes: os tratamentos
podem matar; eficácia contra o Alzheimer. Não vou, como é óbvio, traduzir
tudo o que diz a revista, mas deixo estes títulos para aguçar a curiosidade dos
leitores sobre uma planta ainda insuficientemente utilizada pelos portugueses.
Atenção! Falo da herbácea
denominada cientificamente Crocus
sativus L que é uma Iridaceae
e não de outros sucedâneos, usados habitualmente por serem mais baratos, a que
o vulgo e o comércio também chamam de açafrão. É o caso da Curcuma longa que é uma Zingiberacea
e da Carthamus tinctorius que é uma Asteraceae.
O açafrão, conhecido e utilizado
há milhares de anos, é justamente apelidado de ouro vermelho devido ao alto preço que atinge no mercado mundial.
Um quilo desta apreciada especiaria custa de mil a três mil euros, conforme a
sua qualidade. O que se aproveita da planta são apenas os três estigmas de cada
flor que é colhida manualmente. São necessárias cerca de 150 mil flores para
obter um quilo desses filamentos que depois são devidamente secos e
pulverizados. É, pois, a mão-de-obra que encarece extraordinariamente o
produto, já que o processo de cultivo não parece difícil.
A planta é bulbosa, perene, de 10
a 15 cm de altura, dá-se bem em terrenos medianamente arenosos e precisa de uma
boa insolação. As flores aparecem em outubro, tendo seis pétalas lilases, três
estames amarelos e três estigmas (filamentos) de vermelho intenso que são o que
se aproveita, tudo o mais é tóxico.
Julga-se que o açafrão é
originário da bacia mediterrânica, do próximo oriente e duma cintura geográfica
que vai daí até à Índia. Segundo a citada “Alternatif bien-être”, o Irão é
atualmente o principal produtor, detendo cerca de 90% de toda a produção
mundial. São também os iranianos quem mais investiga a planta sob o ponto de
vista medicinal, tendo chegado a conclusões incríveis sobre as suas múltiplas
aplicações vantajosas comparadas com medicamentos de danosos efeitos
secundários.
O açafrão consegue inibir
moléculas e enzimas responsáveis por inflamações crónicas, melhora a função
cerebral, reduz o risco de doenças do coração, combate o cancro, previne a
doença de Alzheimer, trata as artrites, a depressão e o envelhecimento precoce,
facilita a digestão, alivia o fígado e atenua a pressão arterial. Querem mais?
Contém mais de 150 compostos
voláteis e aromáticos, carotenoides, glucósidos amargos, corantes (crócina),
ferro, magnésio, potássio, fósforo, zinco, cálcio, selénio, pró-vitamina A,
vitaminas B1, B2, B3 e C. Das suas propriedades fitoterapêuticas assinalam-se
as seguintes: analgésica, tónica, digestiva, aperitiva, sedativa, antiviral,
anti-inflamatória, antioxidante, emenagoga, carminativa, antiespasmódica.
Todavia, em doses elevadas pode ser abortivo e produzir hemorragias internas e
vertigens. O “chá”, para beber três chávenas diariamente, não deve levar mais
do que 2 gramas do pó para um litro de água.
Como condimento, com o seu gosto
penetrante, o açafrão está omnipresente na culinária hindu, árabe e persa. No
ocidente é sobejamente conhecida a sua utilização na “paella” valenciana,
conferindo ao arroz uma coloração característica. É também um dos componentes
do afamado caril. Na maior parte das vezes, contudo, o consumidor é enganado
porque, em vez do Crocus sativus, a
cor amarela vem do pó extraído da raiz da curcuma, também chamada
açafrão-das-índias. Ora, sem desprimor pelas qualidades da curcuma que, de
resto, são muitas, ela nada tem a ver com o sabor único do verdadeiro açafrão.
Atrevo-me a afirmar que a maior parte dos menus apresentados no nosso país como
contendo açafrão, não possuem o verdadeiro açafrão.
A fama da planta provém-lhe
também de ser um corante notável. A propósito, diga-se que a palavra açafrão vem do árabe e significa amarelo. As típicas túnicas dos monges
budistas ilustram bem a beleza da coloração amarelo-laranja proporcionada pelo
açafrão.
Termino, voltando de novo aos
atributos medicinais e às descobertas dos cientistas iranianos. Eles dizem que
o açafrão é o suplemento nutricional mais completo que existe, sendo a melhor
substância natural para combater as depressões e substituir medicamentos com
efeitos secundários arrepiantes, como o “Prozac” e quejandos.
Deixo um desafio aos nossos agricultores. Por
que não investir na produção do Crocus
sativus em Portugal? Temos solos e clima adequados, o valor do produto é
elevado, há mercado a nível mundial, e pode contribuir para baixar a taxa de
desemprego. Por que não?
Miguel Boieiro