Sunday, April 27, 2025

 


Açafrão

A revista francesa “Alternatif bien-être”, cujo subtítulo é, significativamente, “Le Journal d’Information des Solutions Alternatives de Santé”, na sua edição de janeiro de 2016, traz um desenvolvido artigo sobre o açafrão. A revista é revolucionária porque põe em causa tratamentos e remédios utilizados correntemente pela medicina alopática, através de argumentos razoáveis e é sempre com muito interesse que a recebo.

No tocante ao açafrão, observe-se apenas as frases que encimam as várias partes do estudo: - Depressão: a arma secreta dos médicos persas; a especiaria mais cara do mundo; as virtudes antidepressivas; contrariar os transtornos sexuais; depressão dos adolescentes: os tratamentos podem matar; eficácia contra o Alzheimer. Não vou, como é óbvio, traduzir tudo o que diz a revista, mas deixo estes títulos para aguçar a curiosidade dos leitores sobre uma planta ainda insuficientemente utilizada pelos portugueses.

Atenção! Falo da herbácea denominada cientificamente Crocus sativus L que é uma Iridaceae e não de outros sucedâneos, usados habitualmente por serem mais baratos, a que o vulgo e o comércio também chamam de açafrão. É o caso da Curcuma longa que é uma Zingiberacea e da Carthamus tinctorius que é uma Asteraceae.

O açafrão, conhecido e utilizado há milhares de anos, é justamente apelidado de ouro vermelho devido ao alto preço que atinge no mercado mundial. Um quilo desta apreciada especiaria custa de mil a três mil euros, conforme a sua qualidade. O que se aproveita da planta são apenas os três estigmas de cada flor que é colhida manualmente. São necessárias cerca de 150 mil flores para obter um quilo desses filamentos que depois são devidamente secos e pulverizados. É, pois, a mão-de-obra que encarece extraordinariamente o produto, já que o processo de cultivo não parece difícil.

A planta é bulbosa, perene, de 10 a 15 cm de altura, dá-se bem em terrenos medianamente arenosos e precisa de uma boa insolação. As flores aparecem em outubro, tendo seis pétalas lilases, três estames amarelos e três estigmas (filamentos) de vermelho intenso que são o que se aproveita, tudo o mais é tóxico.

Julga-se que o açafrão é originário da bacia mediterrânica, do próximo oriente e duma cintura geográfica que vai daí até à Índia. Segundo a citada “Alternatif bien-être”, o Irão é atualmente o principal produtor, detendo cerca de 90% de toda a produção mundial. São também os iranianos quem mais investiga a planta sob o ponto de vista medicinal, tendo chegado a conclusões incríveis sobre as suas múltiplas aplicações vantajosas comparadas com medicamentos de danosos efeitos secundários.

O açafrão consegue inibir moléculas e enzimas responsáveis por inflamações crónicas, melhora a função cerebral, reduz o risco de doenças do coração, combate o cancro, previne a doença de Alzheimer, trata as artrites, a depressão e o envelhecimento precoce, facilita a digestão, alivia o fígado e atenua a pressão arterial. Querem mais?

Contém mais de 150 compostos voláteis e aromáticos, carotenoides, glucósidos amargos, corantes (crócina), ferro, magnésio, potássio, fósforo, zinco, cálcio, selénio, pró-vitamina A, vitaminas B1, B2, B3 e C. Das suas propriedades fitoterapêuticas assinalam-se as seguintes: analgésica, tónica, digestiva, aperitiva, sedativa, antiviral, anti-inflamatória, antioxidante, emenagoga, carminativa, antiespasmódica. Todavia, em doses elevadas pode ser abortivo e produzir hemorragias internas e vertigens. O “chá”, para beber três chávenas diariamente, não deve levar mais do que 2 gramas do pó para um litro de água.

Como condimento, com o seu gosto penetrante, o açafrão está omnipresente na culinária hindu, árabe e persa. No ocidente é sobejamente conhecida a sua utilização na “paella” valenciana, conferindo ao arroz uma coloração característica. É também um dos componentes do afamado caril. Na maior parte das vezes, contudo, o consumidor é enganado porque, em vez do Crocus sativus, a cor amarela vem do pó extraído da raiz da curcuma, também chamada açafrão-das-índias. Ora, sem desprimor pelas qualidades da curcuma que, de resto, são muitas, ela nada tem a ver com o sabor único do verdadeiro açafrão. Atrevo-me a afirmar que a maior parte dos menus apresentados no nosso país como contendo açafrão, não possuem o verdadeiro açafrão.

A fama da planta provém-lhe também de ser um corante notável. A propósito, diga-se que a palavra açafrão vem do árabe e significa amarelo. As típicas túnicas dos monges budistas ilustram bem a beleza da coloração amarelo-laranja proporcionada pelo açafrão.

Termino, voltando de novo aos atributos medicinais e às descobertas dos cientistas iranianos. Eles dizem que o açafrão é o suplemento nutricional mais completo que existe, sendo a melhor substância natural para combater as depressões e substituir medicamentos com efeitos secundários arrepiantes, como o “Prozac” e quejandos.

 Deixo um desafio aos nossos agricultores. Por que não investir na produção do Crocus sativus em Portugal? Temos solos e clima adequados, o valor do produto é elevado, há mercado a nível mundial, e pode contribuir para baixar a taxa de desemprego. Por que não?

Miguel Boieiro

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