“ALIMENTOS TRADICIONAIS
Martín Macedo, Uruguay
Quando um povo se esquece da sua cozinha
tradicional,
começa a declinar.
COMPREENDENDO O NOSSO
PASSADO,
PODEMOS COMPREENDER
QUEM SOMOS HOJE.
Todos
nós necessitamos de conhecer as nossas origens, quem foram os nossos
antepassados, onde viveram, que faziam e quais eram as suas virtudes e os seus
defeitos.
A
nossa identidade e dignidade como seres humanos depende em grande parte em
saber de onde viemos. O passado é fundamental. Também é importante o futuro,
para onde vamos e o que esperamos alcançar na vida. O nosso presente é o
resultado do encontro entre esses dois mundos. O grande desenvolvimento da
humanidade actual depende em grande medida das experiências acumuladas durante
centenas de gerações. Todos esses esforços, sucessos e erros permitiram o
actual avanço do conhecimento e da cultura.
Os
usos tradicionais não são resposta a simples caprichos ou simplesmente uma
consequência dos costumes. O ser humano aprendeu, após uma longa luta, o que é
melhor para ele.
A
capacidade formidável do conhecimento científico deslumbrou o homem moderno,
levando-o a menosprezar e a considerar o antigo ou o tradicional como obsoleto
ou “atrasado”.
No
entanto, durante milhares de anos os seres humanos mantiveram-se fiéis a certas
tradições porque a experiência lhes indicou que era o mais adequado.
Existe
uma tradição no que diz respeito aos alimentos. Cada cultura tem a sua tradição
e parte dessa tradição reflecte-se nos seus hábitos alimentares. Os alimentos
básicos das grandes culturas permitiram, de alguma maneira, o grande
desenvolvimento das mesmas. A crença tradicional leva à convicção de que de
alguma maneira a peculiaridade e a força de um povo sustenta-se em grande parte
na vitalidade que brota das suas comidas típicas. A civilização Egípcia e
Judaico-cristã fez do trigo e seus derivados (especialmente o pão) a base da
sua dieta. O pão é a base, o alimento fundamental, a tal ponto que se lhe deu
valor religioso. No Extremo-Oriente, ocorre um facto similar com o arroz. As
culturas Inca e Maia fizeram do milho o seu alimento divino. Esta é a tradição.
A
experiência acumulada durante milhares de anos, levou os povos a perpectuar os
costumes alimentares, entendendo que destes, depende a força e a grandeza que
os têm caracterizado.
Penso
que os cereais como o arroz, o trigo, a cevada e o milho (integrais, como se
consumiam antes da generalização das máquinas polidoras no sec. XVIII) são os
alimentos principais que as grandes civilizações nos mostram como correctos
para a Humanidade. Deveríamos levar a sério o que nos ensinam os antigos. Quando um povo esquece a sua cozinha tradicional, começa a
declinar. Entra em plena confusão e as doenças físicas e mentais propagam-se
com grande rapidez. O espírito tradicional está vivo no coração dos simples
grãos de trigo ou de arroz. Uma força mágica oculta-se nos modestos grãos.
Durante milénios o homem recebeu directamente esta vitalidade mágica e
sobreviveu com grande coragem e espírito de superação. Actualmente refinamos os
grãos e ao fazê-lo estes perdem uns 50% do seu grande potencial vital.
Em
trezentos anos, perdemos o gosto pelos pratos antigos e nutrimo-nos com
produtos criados pela indústria que apenas procura vender grandes volumes das
suas invenções “nutritivas”.
Nutrir
não é só fornecer calorias e vitaminas. Há uma força vital subtil,
ancestral, poderosa nos alimentos originais.
A
nossa grande capacidade só funciona optimamente se respeitarmos esta ordem tradicional.
Quando o homem regressa a uma alimentação baseada em cereais e pratos
tradicionais, encontra todo o seu potencial físico e mental. A grandeza da
humanidade depende em grande parte destas simples tradições. O nosso ADN é o
resultado de milhares de anos de evolução, bem como o ADN dos cereais naturais.
Se os esquecermos, esquecemo-nos das nossas origens. A nossa força como humanos
declina e somos presa fácil dos vírus e bactérias. Os nossos sistemas
imunológicos só funcionarão com grande capacidade se cada célula for sustentada
pela vitalidade formidável cristalizada nos alimentos correctos para o homem.
Cada
espécie tem um alimento correcto – se se alimentar com ele a sua força natural
é praticamente ilimitada.
A
natureza utiliza os alimentos como canais para nos conectarmos com as imensas
forças do universo. Se não comemos morremos. Se nos afastarmos da ordem e
comermos “de tudo” receberemos força vital, mas com certa distorção. Se
comermos o alimento justo, ajustar-nos-emos aos ritmos universais e
projectaremos a vitalidade ilimitada que é nosso destino manifestar. Os grandes
homens e mulheres da antiguidade fizeram-no.
Porque
não nós, homens e mulheres do século XXI ? “