Thursday, December 29, 2022

 


BEBER É UM GRANDE PRAZER

DrªElena Corrales

O ser humano é o único animal que bebe quando não tem sede. Bebemos para socializar, para depurar … mas quanto e o que devemos beber?

O que nos faz beber deveria ser para saciar a sede, mas será que temos realmente sede ou criámos hábitos que muitas vezes não estão muito bem fundamentados no que diz respeita às nossas necessidades de líquidos?

Vivemos numa sociedade que bebe, e bebe muito, diria eu, demasiado. Hoje vamos analisar o consumo de água, refrigerantes e álcool.

A ÁGUA

A água é a base da vida. É o elemento mais importante do nosso organismo já que representa 70% da composição corporal. Por conseguinte, a nossa saúde dependerá das características da água que consumimos, sem qualquer dúvida. A qualidade e pureza da água condiconam as reacções químicas do metabolismo.

Há muitas pessoas, incluindo médicos, que recomendam beber até dois litros de água por dia porque, segundo dizem, é muito boa para limpar o corpo de toxinas, incluindo a pele. Pessoalmente, acreditamos que esta abordagem é o produto de uma visão fragmentada da vida e desligada do que é a harmonia no corpo humano. Evidentemente, a água arrasta substâncias ou partículas, mas aqui mais do que nunca devemos aplicar o critério de que não é mais limpo quem muito limpa, mas quem pouco suja.

Sem dúvida, o rim é algo mais do que um simples coador, é um filtro activo que, como qualquer sistema biológico, está preparado para filtrar uma determnada quantidade de líquido que tem a ver com as necessidades do metabolismo celular. Beber sem sede fatiga o sistema renal.

Qualquer pessoa não iniciada pode adivinhar o que acontece quando um órgão é submetido a um stress contínuo durante anos, excedendo o seu ritmo fisiológico, sem ter em conta, além disso, que juntamente com a água que se bebe, entram no corpo grandes quantidades de toxinas consideradas normais na nossa sociedade.

A água potável está livre de microrganismos, desinfectada, e isso evita que possamos morrer pouco tempo depois de a bebermos. O que não se elimina com a potabilização por não ser economicamente rentável, são os detergentes, fertilizantes químicos, insecticidas, alumínio, cobre, zinco, chumbo, selénio, crómio, flúor, mercúrio, radioactividade... que estão presentes na água e que pouco a pouco vamos ingerindo. Raramente se tem em conta que a água é o dissolvente universal, daí a sua capacidade de conter todo o tipo de solutos.

Estes componentes, embora não matem imediatamente, vão fazendo mossa na nossa saúde através da sua acumulação no nosso corpo. De tudo isto se depreende que a água exerce um papel fundamental na nossa saúde e é importante que o nosso corpo a receba com as suas qualidades naturais, ou seja, água trabalhada pela natureza, quer venha da água de nascente ou de poços, quer sob a forma de vegetais e/ou frutas.

A alternativa à água da torneira seria a água engarrafada e/ou filtrada, tanto para beber como para cozinhar.

Com este discurso não pretendemos criar alarme e fazer-vos pensar: Já nem sequer água podemos beber! O que queremos é convidá-vos a reflectir sobre quais são as necessidades reais de líquido e que, tal como olhamos para a qualidade dos alimentos que comemos todos os dias, a água que bebemos também deve ser saudável.

É o próprio corpo com a sua sensação de sede que nos indica quanto precisamos de beber. Isso depende de vários factores: da quantidade de sal que ingerimos na nossa dieta e da quantidade de vegetais, que contêm muita água. Devemos também ter em conta a transpiração de cada pessoa. Assim, não podemos estabelecer uma regra fixa. A sede é um bom indicador.

Tal como não dormimos quando não temos sono, não devemos beber quando não temos sede. E se nos vamos hidratar, devemos fazê-lo com água de qualidade, sempre com baixa mineralização e, se possível, nunca da torneira.

OS REFRIGERANTES

Outro grande grupo de bebedores, depois daqueles que bebem água sem terem sede, é o dos adolescentes, que são grandes consumidores de refrigerantes. Os produtos que se consomem actualmente não têm nada a ver com a chufa ou a horchata, a salsaparrilha ou os sumos de frutas feitos artesanalmente pelos nossos avós.

Estas bebidas bebiam-se quase exclusivamente no Verão, o que é perfeito porque essa é a função dos refrigerantes, a de refrescar. Os produtos actuais são consumidos em todas as alturas do ano e, o que é mais grave, frios e com gelo.

Perguntamo-nos: será que perdemos realmente a noção do significado de quente e frio como forma de nos harmonizarmos com o ambiente? Se usamos roupa de lã e impermeável no Inverno para nos manter o calor interno contra as inclemências meteorológicas, como é que nos refrescamos com sumos, refrigerantes e bebidas de cola?

Os refrigerantes artificiais são um cocktail de gás, açúcar e produtos químicos. Não sabemos se a legislação actual determina ou limita o teor máximo de açúcar nestes produtos. No entanto, notamos que existem marcas que se anunciam como "sem açúcar" e utilizam adoçantes como substitutos, que são frequentemente mais perigosos do que o próprio açúcar.

Quanto ao açúcar, para o metabolizar, o organismo deve utilizar as suas reservas de vitaminas B, bem como de cálcio e magnésio: é por isso que dizemos que é um grande desmineralizador. Como todos os alimentos refinados, apenas nos fornece calorias vazias.

O açúcar é um comestível ("não alimento") que, além do mais, tem outros efeitos que tornam o seu consumo desaconselhável, tais como acidez do estomago e grande adição. Esta última vem da assimilação rápida pelo organismo, que pode, em última análise, desencadear hipoglicémia reactiva; é o que se conhece como ansiedade pelos doces.

Sobre os ciclamatos e as sacarinas, tem-se escrito muito sobre os seus efeitos cancerígenos. O mesmo se aplica ao quinino, ao qual muitas pessoas reagem alergicamente, e à cafeína, que, embora em pequenas doses, activa o metabolismo e acelera o pulso e a respiração, causando mais tarde uma diminuição da concentração e da capacidade de acção do organismo.

Uma lata de cola contém sete colheres de chá de açúcar e o teor de cafeína de três latas é equivalente a uma grande chávena de café. Há adolescentes que bebem mais de um litro de refrigerantes por dia ...

Outro grande grupo de substâncias que entram na composição dos refrigerantes é o ácido fosfórico, que é nocivo ao bom funcionamento do sistema nervoso e especialmente o das crianças e os conservantes E-210 e E-211 que podem causar urticária e asma se tomados com os corantes que são frequentemente acompanhados.

É interessante, portanto, "refrescar-nos" quando realmente faz calor e fazê-lo com bebidas menos suspeitas e, como dissemos anteriormente, respeitando a nossa sede.

O ÁLCOOL

O terceiro grupo de bebedores são aqueles que "para os copos" todas as tardes, de bar em bar. Não vamos falar sobre os efeitos do álcool porque, infelizmente, todos conhecemos as consequências do alcoolismo. Queremos falar sobre algo que será novidade para algumas pessoas e pode ajudá-las a compreender porque é que o vinho por vezes não lhes cai bem. Trata-se dos conservantes derivados do enxofre utilizados na vinificação: os sulfitos. A legislação da Europa Central é muito menos permissiva na adição destas substâncias do que a dos países mediterrânicos.

Os sulfitos permitem que o vinho seja preservado a longo prazo. Para além do dióxido de enxofre, os fabricantes adicionam frequentemente certas quantidades de ácido sórbico, o que por vezes provoca alergias graves. Sintomas de envenenamento agudo, tais como vómitos, dores de cabeça e diarreia, podem ocorrer após a ingestão de produtos com enxofre. A morte por envenenamento agudo por dióxido de enxofre é muito pouco provável que ocorra, devido ao vómito, mas o envenenamento crónico causado pelo consumo diário é muito mais perigoso.

Os sais de enxofre suprimem a vitamina B1 do nosso organismo, de modo que os consumidores de vinho são cronicamente deficitários nesta vitamina. Isso leva a perturbações funcionais do sistema nervoso, do estômago e dos intestinos e do metabolismo basal.

Em relação aos limites toleráveis de sulfito, é curioso notar que o limite para vinhos é quatro vezes superior ao limite para as compotas. Pensemos na forma arbitrária em que estes valores são fixados.

Aqueles de nós que vivem nas cidades notam como o número de bares está a aumentar a cada dia e como o consumo de álcool e de bebidas estimulantes está a crescer de forma constante. O aumento do número de bares não é simplesmente um fenómeno de estatísticas sociais, mas um dos muitos sinais da tremenda crise que ameaça a espécie humana. As pessoas bebem sistematicamente quando estão cansadas ou tristes, bebem para acalmar a ansiedade... para preencher o seu vazio interior. Nada a ver com saciar a sede.

Bebamos bebidas saudáveis quando temos sede e façamos um uso moderado das que fazem parte da nossa cultura e da vida social.

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