O REGIME MACROBIÓTICO DE OKINAWA
Da
autoria de Roland Reymondier e
publicado na bibliografia
macrobiótica por Gérard Wenker.
Este artigo foi-nos sugerido
por Roland Reymondier, editor-chefe de uma importante revista de
"Dietética". Finalmente um artigo objectivo sobre a macrobiótica.
Escusado será dizer que subscrevo totalmente o que é demonstrado neste estudo -
Gérard Wenker.
“OKINAWA OU
MACROBIÓTICA?
Quando pela primeira
vez ouvi falar do regime de Okinawa, pensei ter reconhecido o muito famoso
regime macrobiótico que todos os adeptos do bio praticavam nos anos 1960-1970.
De facto, a
macrobiótica não tinha senão uma falha aos olhos dos seus detractores, e era
uma grande falha: era capaz de curar as chamadas doenças
"degenerativas" como o cancro, pelo menos de acordo com os muitos
seguidores curados.
Poder afirmar,
como o fez Michio Kushi, que uma simples mudança alimentar podia curar diversas
patologias em profundidade não era simplesmente "aceitável". Assim,
toda uma campanha de "desinformação" foi orquestrada em torno deste
famoso regime macrobiótico. Os detractores acusaram a macrobiótica de todo o
tipo de males. O que mais prejudicou este movimento - poder-se-á falar de
movimento, uma vez que vários milhares de pessoas em França praticavam esta alimentação
- foi o de se tratar de uma seita, cujos gurus se chamavam Georges Ohsawa e Michio
Kushi (seu sucessor e actualmente a viver em Boston e com mais de 80 anos) -
entretanto já falecido.
A macrobiótica
foi acusada de todo o tipo de males: regime carenciado, desmineralizante,
debilitante. Os seus adeptos foram retratados como doces iluminados que punham em
perigo tanto a sua saúde como a dos seus filhos e familiares.
Ainda hoje, a
palavra ´seita´continua a ser associada a algo de maléfico e quando um
movimento de saúde "subversivo", sobretudo para os bem-pensantes, tem
um certo sucesso, a seita "anti-culto" fica de olho, impedindo a sua
expansão.
Tenho constatado
pessoalmente neste últimos anos que todos aqueles que ainda praticam a
macrobiótica evitam cuidadosamente falar sobre o assunto e ao mesmo tempo
mantêm-se afastados de qualquer polémica.
Gostaria de
testemunhar que a minha filha "nasceu" macrobiótica e foi criada de
acordo com estes princípios alimentares. A sua infância foi a de uma rapariga
sem quaisquer problemas de saúde. Em cada visita médica, o seu pediatra ficava
espantado por ela nunca ter tomado um único medicamento na sua vida. Também não
conseguia compreender como é que ela nunca teve uma simples constipação ou
qualquer outra doença infantil. E surpreendentemente, ela, que nasceu de pais
com graves problemas dentários, nunca teve uma única cárie!
O que também
dificultou o regime macrobiótico foram as noções de YIN e YANG, pouco
acessíveis para a mente ocidental. Para muitos seguidores, os alimentos
"YIN" são maus, enquanto que os alimentos ditos "YANG" são
bons. O sal, que é um poderoso factor YANG, foi assimilado demasiado depressa como
algo de bom, o que, como sabemos, não é de todo verdade...
O criador da
macrobiótica, George Ohsawa, costumava dizer que não tinha inventado nada e que
não fazia mais do que aplicar os princípios básicos da alimentação tradicional
japonesa. As curas obtidas eram, segundo ele, fruto de uma reorganização da alimentação.
Foi preciso
esperar pelo início dos anos 1980 para se compreender correctamente as
declarações do criador (o pai) da macrobiótica moderna.
OKINAWA
PROPORCIONA UMA MELHOR COMPREENSÃO DA MACROBIÓTICA
Um pouco de
geografia para começar: Okinawa é um arquipélago japonês constituído por 161 ilhas, no
Mar da China, entre Taiwan e o Japão.
Para
compreendermos a história da descoberta do regime alimentar de Okinawa, temos
de recuar à Segunda Guerra Mundial. A 1 de Abril de 1945, começou a maior
batalha do Pacífico, pelo controlo deste arquipélago japonês. Esta batalha foi
a que mobilizou mais soldados, mais navios e bombas de todas as batalhas no
Pacífico. No final da batalha, em Junho de 1945, ganha pelos americanos, estes tinham
perdido 50.000 soldados.
107.000
soldados japoneses e 100.000 civis de Okinawa tinham morrido nos combates.
Os americanos,
que ocuparam a ilha até 1972, mantiveram um registo muito detalhado sobre a
saúde dos seus habitantes. A partir deste registo, o geriatra Makoto Suzuki
enviado para a ilha em 1970, apercebeu-se que o número de centenários era muito
mais elevado do que a média japonesa. Visitou então vários destes centenários e
notou algo ainda mais surpreendente: a esmagadora maioria dos centenários ainda
estava activa, de plena saúde, a trabalhar e a viver em suas casas (e não num lar
para idosos), e as doenças e deficiências relacionadas com a idade eram quase
inexistentes, tal como os cancros.
Em 1976,
convenceu o Ministério da Saúde japonês a financiar um estudo sobre estes
centenários, para compreender porque tantos centenários vivem neste arquipélago
e qual a origem da sua extraordinária saúde. Em 1980, recebeu ajuda de dois
estudantes canadianos, Bradley e Craig Willcox.
Os três
realizaram um estudo muito minucioso e recolheram informações sobre 657
centenários. Esta análise, chamada "Estudo de Okinawa", é a mais
antiga do seu género. Actualmente, ainda diz respeito a quase 600 centenários do
arquipélago.
As conclusões deste estudo
são agora conhecidas. Ao contrário do que se poderia pensar, a genética não
desempenha qualquer papel na longevidade dos habitantes. Esta longevidade e esta
boa saúde são devidas à alimentação saudável e à actividade física dos habitantes
de Okinawa.
O alimento
é o principal medicamento
A primeira
questão que os investigadores colocaram foi se a longevidade dos habitantes do
arquipélago não se devia simplesmente a um factor genético. Mas esta hipótese
foi rapidamente descartada. De facto, os nativos de Okinawa que emigraram e
adoptaram a dieta ocidental, tinham uma esperança de vida 17 anos mais curta do
que aqueles que permaneceram em Okinawa. Portanto, não é a genética que explica
a sua longevidade.
A análise foi,
portanto, reorientada para estudar o estilo de vida dos habitantes.
Ao analisar os
dados relativos à nutrição, foi identificado um factor comum a todos os
centenários: a restrição calórica. Este factor é conhecido há muito tempo como
o único capaz de aumentar a longevidade dos animais. Esta foi a primeira vez
que foi verificada em grande escala em humanos.
A restrição calórica consiste
muito simplesmente em comer menos calorias. Enquanto que a média para um
americano é de 2.500 kcal/dia (2.300 para um francês), os habitantes de Okinawa
consomem apenas 1.800 kcal/dia. Isso é uma diferença de 500 a 700 kcal por dia!
É esta diferença que explica a longevidade, porque comer menos permite
envelhecer menos, mas também envelhecer com melhor saúde.
Como é que
isto pode ser explicado?
O fenómeno pode ser resumido
da seguinte forma: quanto mais comemos, mais envelhecemos, e a falha reside nas
partículas altamente reactivas chamadas radicais livres que danificam todos os
componentes da vida. Inversamente, o regime hipocalórico praticado em Okinawa,
ao reduzir a quantidade de radicais livres, poupa os nossos órgãos. A esperança
de vida aumenta, a frequência das doenças relacionadas com a idade diminui.
Enquanto que os radicais livres normalmente aumentam com a idade, os testes
sanguíneos efectuados aos centenários de Okinawa mostraram que estão sujeitos a
um nível muito baixo de radicais livres: sofrem metade do número de ataques que
os seus homólogos mais jovens nos seus setenta anos, cuja higiene alimentar se
tornou menos rigorosa.
Comer, é
envelhecer
As mitocôndrias, nossas
centrais de energia celular, utilizam os alimentos para produzir 90% da energia
corporal. Mas este processo não é 'limpo'. Um pequeno número de electrões adere
ao oxigénio para formar uma partícula extremamente agressiva, um radical livre
chamado superóxido. Ao processarmos alimentos, produzimos 2 kg deste radical
livre todos os anos, o que prejudica permanentemente as nossas mitocôndrias.
Com o passar dos anos, estas fornecem cada vez menos energia (o que explica a
falta de ar dos idosos) e cada vez mais radicais livres que atacam os
componentes da célula e dos órgãos. Estão na origem do envelhecimento e de uma
boa centena de doenças como o cancro, as doenças coronárias ou do Alzheimer.
Subnutrição
sem desnutrição
No entanto,
não havia quaisquer sinais de desnutrição entre estes centenários. Pelo
contrário", disse Bradley Willcox, "a alimentação e a cozinha ocupam
um lugar importante na cultura de Okinawa”. Para o investigador, os habitantes
mais velhos de Okinawa praticam a restrição calórica sem privação. De facto - e
esta é uma das revelações mais surpreendentes do estudo de Okinawa - os
centenários do Arquipélago, embora tenham consumido menos calorias do que no
Ocidente durante toda a sua vida, na realidade comem mais comida do que nós, se
tomarmos como critério o peso! Para tomar apenas um exemplo, um hambúrguer com
queijo pesa apenas 100 g, mas fornece 280 calorias. Este é precisamente o
número de calorias fornecidas por uma refeição tradicional de Okinawa: legumes
fritos, arroz integral e sopa de miso, tudo para um peso de 500 g, ou seja, 5
vezes o do hambúrguer.
E aqui está a
chave desta restrição calórica que não deixa passar fome: alimentos com baixa
densidade calórica (em relação ao peso), que levam mais rapidamente à
saciedade. E também são mais ricos em vitaminas e minerais. Graças a eles, os habitantes
de Okinawa podem comer sem se privarem, sem engordar uma grama e ao mesmo tempo
retardar o envelhecimento! Com efeito, durante uma refeição, somos mais
sensíveis ao peso dos aimentos que engolimos do que à sua densidade calórica.
Isto foi recentemente demonstrado pela equipa de Barbara Rolls (Universidade da
Pennsylvania). Ela mostrou que as mulheres a quem serviam um prato de massa e
legumes comiam invariavelmente a mesma quantidade de comida, independentemente
de ser mais ou menos calórica.
Mas há o
seguinte: a maior parte dos alimentos ditos "modernos" - pizzas,
hambúrgueres, refrigerantes, batatas, pão branco, chocolates - têm uma elevada
densidade calórica. A transformação de um grão de trigo em farinha branca multiplica
por seis a sua densidade calórica. E mais de 50% das calorias engolidas pelos
franceses vêm de cereais refinados e de açúcares adicionados. Para se saciar com
tais refeições, é inevitável acumular calorias. E no processo, aceleram o seu
processo de envelhecimento.
Além disso, os estudos
realizados sobre os Okinawanos que emigraram para o Brasil mostram que consomem
18 vezes mais carne do que no arquipélago, duas vezes mais de enchidos, três
vezes mais de açúcar e produtos lácteos, e três vezes menos de vegetais e de peixe.
Ou seja, no total, mais de 30% de calorias suplementares. E há entre eles cinco
vezes menos centenários do que em Okinawa propriamente dita.
A pirâmide
de Okinawa
Os responsáveis pelo estudo
dos centenários acabam de elaborar uma série de recomendações alimentares para
retardar o processo de envelhecimento, baseadas no modelo do regime alimentar
de Okinawa. Estas recomendações, são apresentadas sob a forma de pirâmides.
Para compreender o seu significado, devemos primeiro examinar os conselhos
oficiais franceses: Por razões culturais e económicas, os cereais e os
alimentos ricos em amido (féculas) constituem a base da alimentação. Os
produtos lácteos ocupam um lugar importante (3 a 4 por dia), mais uma vez por
razões que têm mais a ver com economia e hábitos culturais do que com ciência
pura. Pelo contrário, a base do regime de Okinawa é constituída por cereais,
legumes, algas, sopas, produtos derivados da soja, que são ao mesmo tempo saciantes
e baixos em calorias. “Podemos comer estes alimentos à vontade que nunca teremos
fome e nunca engordaremos”, disse Bradley Willcox. Para maior variedade, o
Dr Willcox recomenda a composição de três quartos da refeição a partir desta
categoria e a adição de pequenas quantidades dos outros alimentos apresentados na
pirâmide. As batatas doces, com o seu baixo índice glicémico, são preferíveis
às nossas batatas. O arroz deve ser comido integral. Podemos variar entre peixes
magros e peixes gordos ricos em ómega-3. Contrariamente ao que é recomendado
pelos nutricionistas ocidentais, os investigadores de Okinawan aconselham comer
menos à medida que envelhecemos, seguindo o exemplo dos centenários de Okinawa,
mantendo ao mesmo tempo uma actividade física regular. De facto, à medida que
envelhecemos, o metabolismo basal diminui: queimamos menos calorias em repouso,
com o consequente risco de ficarmos com excesso de peso.
Um modo de
vida totalmente novo
O regime de
Okinawa não é apenas um simples quadro alimentar, é também e sobretudo um modo
de vida para todos os habitantes deste arquipélago.
Não é apenas
um plano dietético, mas também actividades físicas regulares e uma vida social
plena. Os homens do arquipélago foram, durante muito tempo, pescadores,
enquanto as mulheres cuidavam de uma pequena horta. Tanto os homens como as
mulheres eram fisicamente activos.
A vida associativa
tinha também uma grande importância. Mesmo os centenários participavam em
associações, organizavam festas... e continuaram a trabalhar!
Este modo de
vida e a dieta saudável dos habitantes não se destinavam a fazê-los viver
velhos e saudáveis, é simplesmente a consequência do seu envolvimento. Do mesmo
modo, não se destinavam a fazer as pessoas perderem peso, é simplesmente um
"efeito secundário" bastante interessante do nosso ponto de vista.
500g de
gordura representam cerca de 3.500 kcal. Assim, para perder 500gr por semana é
preciso criar um défice calórico de 3.500/7 = 500 kcal por dia... que é a
diferença exacta entre as dietas francesa e Okinawana!
Acrescente-se
a isto uma actividade física um pouco mais frequente e o regime de Okinawa
torna-se o aliado ideal para um emagrecimento bem sucedido e sobretudo em boa saúde.
Podemos
compreender então porque é que esta dieta nos pode ajudar a emagrecer e a perder
até 500gr por semana.
Ainda assim é
importante notar um ponto crucial: a redução de 500kcal não conduz a qualquer carência
no quadro do regime de Okinawa porque a dieta é baseada nos cereais / legumes /
soja / peixe. Assim, a ingestão de vitaminas/minerais é elevada e a ingestão de
proteínas e ácidos gordos essenciais estão garantidas.
Os benefícios
injustamente atribuídos aos estrogénios são encontrados neste regime ....
Os centenários de okinawa
não são apenas muito numerosos, mas também estão excepcionalmente em forma. As
doenças e as incapacidades são muito raras neste arquipélago.
Eis uma
pequena lista dos benefícios do regime de Okinawa:
·
Melhor
regulação das hormonas sexuais, nomeadamente as "hormonas da
juventude" como a DHEA
·
Menos
ataques cerebrais ou cardíacos;
·
Menos
problemas cardiovasculares (redução de 80% em comparação com um estilo de vida
ocidental);
·
Menos
colesterol;
·
Menos
cancro da mama, do cólon e da próstata;
·
Menos
doenças degenerativas do tipo Alzheimer;
·
Menos
osteoporose (2 vezes menos fracturas do colo do fémur em Okinawa);
·
Menos
diabetes;
·
Menos
hipertensão;
·
Menos
deficiências terminais (os últimos 7 anos de vida de um americano são
acompanhados de uma deficiência, contra apenas 2,5 anos para um habitante de Okinawa)
·
Graças
a esta saúde extraordinária, os centenários de Okinawa permanecem activos,
participam em associações, cuidam das hortas e dos jardins, pescam ...
·
Além
disso, esta dieta permite-lhes manterem-se magros. Menos de 1% dos centenários
têm excesso de peso e o IMC médio dos habitantes é de cerca de 20, contra um
IMC médio de 24 em França.
·
Um
último bónus: com o regime de Okinawa, o efeito yo-yo já não é um risco, porque
este regime não é simplesmente um regime de emagrecimento, mas uma mudança
completa dos hábitos alimentares a longo prazo.
Um
maravilhoso equilíbrio alimentar com menos calorias
É verdade que
os centenários de Okinawa consomem poucas calorias. Num estudo de 1996, a
ingestão calórica de homens e mulheres centenários de Okinawa era de cerca de 1.100
calorias por dia, o que é inferior à ingestão calórica recomendada para este
grupo etário.
O consumo de porções
adequadas de alimentos de baixa densidade energética proporciona saciedade. Ela
pode com efeito ajudar a perder peso. Nos animais, a restrição calórica tem
demonstrado melhorar a longevidade. Nos humanos, a curto prazo, a restrição
calórica traz certos benefícios, nomeadamente uma melhoria do equilíbrio
lipídico (colesterol, triglicéridos). Um estudo prospectivo, publicado no
Journal of Gerontology em 2004, revelou que os homens que consomem 15% a 50%
menos calorias do que a média, reduzem o seu risco de mortalidade em todas as
causas.
Não existem
dados científicos sobre o efeito a longo prazo sobre a restrição calórica nos
seres humanos. Alguns investigadores estão preocupados com possíveis
consequências negativas, nomeadamente o risco de carências nutricionais.
Os resultados
de um estudo demonstraram que os alimentos tradicionalmente consumidos na
região de Okinawa têm propriedades anticancerígenas mais elevadas do que os consumidos
no resto do Japão.
Notemos também que o segredo
da longevidade dos habitantes de Okinawa não é devida apenas à sua alimentação
e actividade física, mas também a factores socioculturais, psicológicos e
hereditários.
Em que se
baseia esta alimentação?
Os princípios que estão na
base do regime de Okinawa não são uma escolha deliberada dos habitantes de Okinawa,
mas simplesmente uma adaptação ao seu meio ambiente: pouca terra para o cultivo
e reprodução de animais, portanto, poucas proteínas bovinas, e mais peixe e
algas marinhas. Estranhamente, assemelha-se à recomendação de Michio Kushi,
líder mundial do movimento Macrobiótico.
A base da
alimentação dos habitantes de Okinawa faz-se a partir dos seguintes alimentos:
·
Cereais
·
Legumes
·
Algas
marinhas
·
Soja
e seus derivados:
·
Sopas
de Miso com legumes e algas marinhas, bem como tofu.
·
Estes
são alimentos muito saciantes e pouco calóricos, permitindo comer em grande
quantidade mas com poucas calorias. Estes alimentos representam 75% da refeição
e podem ser comidos quase tanto quanto se desejar.
A refeição
é complementada com:
·
Batatas-doces,
cujo índice glicémico é mais baixo do que o das nossas batatas;
·
Arroz
integral (índice glicémico inferior ao do arroz branco e fornece fibra);
·
Peixe,
alternando entre peixe magro e peixe gordo (para os ómegas-3).
·
Note-se
que os alimentos utilizados são alimentos integrais, portanto na sua forma o mais
natural possível. Fornecem um elevado teor de fibras e hidratos de carbono
complexos, enquanto que os produtos refinados são frequentemente compostos por
açúcares simples e rápidos.
·
Além
disso, a alimentação está adaptada em função da idade. Com a idade, a massa
muscular diminui e por isso o metabolismo basal reduz, o corpo queima menos
calorias. O regime de Okinawa preconiza a redução da ingestão calórica à medida
que envelhecemos para evitar o risco de obesidade.
Como podemos
inspirar-nos neste regime?
As quantidades de alimentos
a serem consumidas são claramente definidas, sendo a porção a unidade de
medida. 1 porção pode ser um vegetal, uma fatia de pão, 100g de soja, 100g de
peixe, 1 galete de arroz...
Eis as
quantidades aconselhadas para o regime de Okinawa:
·
7
porções de legumes e/ou de fruta fresca por dia
·
7
porções de cereais integrais e/ou de leguminosas por dia
·
2
porções de soja por dia (100g de rebentos de soja, 1 copo de leite de soja ou
100g de tofu);
·
1
sopa de miso por refeição (à base de algas e de legumes)
·
3
porções de peixe por semana
·
Utilizar
óleo de colza e muitas especiarias (wasabi, gengibre, mostarda, etc.), ervas aromáticas
(salsa) e bolbos (alho, cebola, etc.)
·
Muita
água e chá.
Algumas
restrições alimentares:
·
Pouca
carne
·
Poucos
produtos lácteos
·
Pouco
álcool
·
Pouco
ou nenhum açúcar e sal.
·
Deve-se
notar, no entanto, que as quantidades e a variedade de alimentos a consumir num
dia são muito elevadas. Pode-se, portanto, comer muito e até à saciedade com
este regime.
O prato
macrobiótico padrão segundo Michio Kushi
O prato macrobiótico
padrão é de certa forma a base desta alimentação.
Lembremo-nos
que a macrobiótica não é um regime, nem uma dieta, e ainda menos uma cura, mas
uma filosofia de vida que é aplicada à alimentação.
A macrobiótica
como método alimentar não é mais vegetariana do que vegetaliana, mas não pode
ser definida como carnívora. Não há proibições, nenhuma ideia preconcebida,
apenas uma reflexão atenta baseada naquilo a que os seguidores chamam "o
Princípio Único" originário de uma sabedoria milenar, que nos deve guiar e
ter precedência sobre qualquer outra consideração.
Concebido de
acordo com o equilíbrio YIN-YANG, aqui está o prato padrão ideal por grupo
alimentar:
·
10%
de produtos animais e preparações vegetais: A carne, sobretudo de aves, e o peixe,
assim como o queijo e os ovos podem ser incluídos, mas em quantidade muito
pequena. Isto pode ser utilizado como um regime de transição. Mas muito
rapidamente serão substituídos por preparações de proteínas vegetais
concentradas tais como tofu, tempeh, seitan, natto e miso.
·
50%
de cereais integrais: A base da dieta macrobiótica é o cereal. Mas quando
falamos de cereais referimo-nos a: arroz integral, quinoa, millet, trigo
sarraceno, espelta, cevada etc.......
·
30%
de legumes de estação: Uma parte dos legumes consomem-se cozidos: no vapor,
estufados, na panela. Outra parte consome-se crua: salada, legumes verdes,
rebentos e sementes germinadas, salsa, cebolinho. Os melhores legumes são:
cenouras, nabos, rabanetes pretos, daikon, cebolas, todos os tipos de couves (frisada,
couve-flor, brócolos, etc.), funcho, espinafres, abóboras, endívias, cogumelos
shitake, todos os legumes antigos, tais como alcachofras de Jerusalém,
rutabagas e os legumes selvagens, tais como dente-de-leão, urtigas, agriões,
etc. .... A macrobiótica restringe os vegetais demasiado yin ou que têm um
índice glicémico elevado: batatas, tomates, beringelas, pepinos.
·
10%
de leguminosas e algas marinhas. Grão-de-bico, lentilhas, ervilhas partidas,
azukis, soja verde.... todas estas leguminosas são realmente pequenas
maravilhas. Em todas as civilizações, acompanham os cereais. Por exemplo, no
Norte de África: cuscuz e grão-de-bico. As algas marinhas encontram-se
principalmente na tradição japonesa. São plantas com um conteúdo mineral muito
elevado. As algas hizikis, por exemplo, contêm 14 vezes mais cálcio em peso do
que o leite.
·
Os
temperos: Tamari, gomásio, tekka, uméboshi, vinagre de arroz e de uméboshi. Os óleos
acompanhantes são: óleo de sésamo, óleo de colza.... O sal deve ser utilizado
em quantidades muito pequenas.
Okinawa e
Macrobiótica: os pontos comuns
"Macro" significa
grande, "biótica" significa vida, Ohsawa batizando o seu regime de "macrobiótica"
significava que ele estava a propor um regime de grande vida ou mais
precisamente um regime de longa vida. Ohsawa nunca parou de dizer que se inspirou
na alimentação tradicional do Japão. Assim, o que vemos quando olhamos para o
regime de Okinawa: a alimentação tradicional de um povo que vive nas ilhas
perto do Japão.
Os pontos comuns
aos dois tipos de alimentação
·
A
utilização de uma vasta gama de produtos vegetais de baixa densidade calórica
·
A
soja é a proteína vegetal de base: O recorde mundial de consumo de soja
encontra-se nas Ilhas Okinawa. As crianças comem forçosamente soja porque ela
está presente em cada refeição, mesmo que seja apenas sob a forma de sopa de
miso com pedaços de tofu dentro.
·
Os
fitoestrogénios modulam as hormonas, mas apenas ligeiramente. Portanto, há
muito pouco risco de interferência com a diferenciação sexual. Por outro lado,
o consumo precoce reduz eficazmente o risco de cancro da mama e da próstata
atenuando a agressividade das hormonas, por um lado, e por outro, porque os
fitoestroestrogénios demonstraram ser geno-protectores antioxidantes muito
poderosos, capazes de baixar o 8OHdG, um marcador da intensidade das lesões nos
genes.
·
Em
macrobiótica, faz-se também um largo uso de miso, tamari, tempeh, tofu.
·
Os
cereais ocupam um lugar de destaque, tendo o arroz integral como prioridade.
·
Uma
alimentação em grande parte vegetariana, por vezes mesmo inteiramente
vegetariana. As fontes de produtos de origem animal podem, por vezes, ser
peixes magros.
·
Uma
gama incrível de legumes ricos em fitonutrientes.
·
Uma
ausência total de produtos lácteos: a osteoporose é rara no Japão.
·
Uma
alimentação muito rica em antioxidantes: chá verde, chá de três anos para a
macrobióticos, cereais, sésamo (oleaginosas), legumes terrestres ou marinhos
(algas marinhas).
·
Uma
restrição calórica - menos de 300 calorias do que nas nossas regiões - com uma
gama muito vasta de diversos produtos vegetais degustados com arte e prazer.
·
Mas
também uma filosofia de vida com: Actividades físicas que permanecem abundantes
e regulares em todas as idades.
·
São
utilizados diariamente múltiplos instrumentos de gestão do stress e de autotratamento,
em particular o shiatsu (os instrumentos tóxicos como o tabaco, o excesso de
álcool ou de calorias, os "narcóticos", como a hipnose televisiva,
não são utilizados).
·
Uma
apreciação do inestimável valor da existência do universo, de todas as suas
riquezas materiais e culturais, da vida, a consciência de uma conexão para lá
de si próprio à natureza e aos seus antepassados, um sentimento de pertença, de
enraizamento no "grande Todo" são cultivados diariamente, sustentando
o desejo e o prazer de "durar".
Um carácter "tough-cool" (“gujuh taygay”
no dialecto de Okinawa): ao mesmo tempo positivo (visão positiva do mundo, da
existência, de si próprio, das suas escolhas, da sua saúde), autónoma, sólida,
centrada, alimentada por convicções seguidas com uma coerência rigorosa,
dominante, por vezes autoritária, atenta à realidade (muitas vezes curiosa de
tudo) e das suas próprias necessidades, autêntico, resiliente (capacidade de
recuperação), generoso, não conformista, sentimento investido de uma
"missão" (pelo menos a de cultivar a saúde e o bem-estar, de ser o mais
feliz possível, e muitas vezes a de contribuir, de comunicar).
·
Os
okinawanos, mas também os "macrobióticos", são quase todos muito
activos (há muitas pessoas criativas entre os centenários de okinawa) e, de
resto, pacíficos diariamente, calmos, pacientes, disciplinados, flexíveis,
capazes de reconhecer os seus erros, de relativizar, de "amortecer as
emoções" (segundo a expressão do Prof. Vellas), de bom humor, vivendo
momentos de verdadeira alegria, amando as abordagens lúdicas e, com bastante
frequência, risonhos e brincalhões.
·
O
desenvolvimento e aprofundamento da espiritualidade. O abandono dos
"excitantes" alimentares (açúcar, produtos de carne, excitantes) dá
uma base mental e emocional muito maior. Ohsawa afirmou no seu livro
"Macrobiotica Zen" que estava a dar a "chave do reino dos Céus"
através da adopção da Macrobiótica. Assim, logo que este livro foi publicado
nos anos 1960, atraiu toda uma série de hippies .... Isto não ajudou a tornar a
"macrobiótica" popular porque estes jovens praticavam esta dieta com
drogas, por vezes duras, que certamente davam acesso aos paraísos, mas que eram
totalmente artificiais.
Roland
Reymondier
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