Thursday, November 7, 2024

 


A CEVADA

“… a cevada, como eu então a conheci, só se destinava ao gado. Mais tarde é que me apercebi que tinha também importante préstimo na alimentação humana e na fitoterapia …” – Miguel Boeiro.

“A cevada é um cereal relativamente desconhecido para a maioria das pessoas, mas já foi um alimento base em muitas culturas espalhadas pelo mundo.

Na Medicina Oriental considera-se que este cereal beneficia o fígado e a vesícula biliar e é particularmente indicado para ajudar a eliminar gordura e proteína animal, beneficiando imenso as pessoas que desejam perder peso e necessitem de “dissolver” quistos e cálculos. É muito saborosa quando cozinhada em conjunto com o arroz integral, bem como em sopas. Tostada até alourar e fervendo-a durante uns minutos, obtém-se “chá de cevada”, excelente para refrescar o fígado e perder peso” Francisco Varatojo.

INTRODUÇÃO

A cevada (Hordeum vulgare), a par do trigo, teve a sua origem no próximo oriente e foi dos primeiros cereais domesticados pelo Homem há cerca de 10 mil anos, conforme vestígios detectados em estações arqueológicas do paleolítico. Cultiva-se há milhares de anos tanto no Oriente como no Ocidente. Foi utilizada regularmente na Ásia, África e América latina e na alimentação básica, tanto pelos egípcios dos faraós (sua principal produção), como pelos gregos e romanos antigos. Teve um papel muito importante na alimentação humana na Europa até ao Sec. XIX, nomeadamente nos países mediterrânicos.

Para se fazer uma ideia das suas qualidades nutritivas, energéticas e medicinais, diremos que: era o alimento de base dos gladiadores romanos, a quem chamavam de “Hordearii” (os comedores de cevada); os pães de cevada, foram a refeição do “sermão da montanha” e “o pão da multiplicação” do evangelho e da última ceia de Cristo; Platão e Pitágoras, filósofos-matemáticos da Grécia Antiga, recomendavam aos seus alunos comer pão de cevada e beber água de cevada, já que era bom para promover a capacidade de pensar, concentrar-se e aprender; Hipócrates, médico grego, conhecido como o “pai da Medicina Ocidental” e Cláudio Galeno, médico e filósofo romano de origem grega, recomendavam a “cura pela cevada” para curar todas as doenças agudas – Hipócrates, recomendava as sopas de cevada e a “monodieta dos 10 dias de cevada integral” como primeira abordagem terapêutica, para restituir a vitalidade e curar os seus pacientes.

Na Idade Média, o pão de cevada, apelidado de pão negro, foi o principal alimento dos pobres camponeses, enquanto o trigo estava reservado para a nobreza. A partir do século XVI, a vinda da batata e do milho do Novo Mundo, tirou protagonismo à cevada no campo alimentar. Também por ser pobre em glúten, e por isso mesmo pouco apta para a panificação, foi perdendo a sua importância na nutrição humana …

Extremamente adaptável, cresce tanto em climas muito quentes como em climas muito frios. Cultiva-se desde os confins do Sahara até à Suécia.

VARIEDADES DA CEVADA

A cevada é um cereal maravilhoso, muito versátil e muito saboroso, sendo o 5º cereal mais cultivado no mundo. É comercializada de diferentes formas:

A cevada descascada (cevadinha) é um tipo de cevada à qual se extraiu a casca, mas não o “farelo” (salvado), pelo que oferece um conteúdo nutricional superior a outras formas deste cereal – cevada perlada.

A cevada integral, não descascada, que mantém todo o seu potencial nutritivo e energético.

A cevada pérola ou perolada (Hato Mugi ou Lachryma Jobi), à qual destaco um parágrafo especial mais abaixo.

A cevada germinada, naturalmente rica em maltose, um açúcar natural que é a base da geleia ou malte de cevada, e que, fermentada, está presente na cerveja e outras bebidas alcoólicas.

A geleia ou malte de cevada, é um adoçante natural, obtido por processos enzimáticos a partir do grão de cevada moído de produção biológica, contendo açúcares naturalmente presentes, não refinado, sem corantes nem conservantes. É utilizada na doçaria natural, em biscoitos, bolachas, para adoçar os cereais do pequeno-almoço, iogurtes, café, chá, bebidas e “preparações medicinais macrobióticas”, para substituir o açúcar refinado/sacarose (branco ou escuro) e o próprio mel de abelha.

Como salvado de cevada e Malte verde.

Ceifada em verde para alimentação de gado.

Em Miso (Mugi Miso).

Também se utiliza para fazer cerveja e para destilar no fabrico do whisky escocês e outras bebidas alcoólicas, como o kvas, originária da Europa de Leste e a água de cevada ou chá de cevada.

PROPRIEDADES NUTRITIVAS, ENERGÉTICAS E MEDICINAIS DA CEVADA

Para conservarem a sua energia vital e as suas propriedades nutricionais e medicinais que os caracterizam, os cereais devem ser biológicos e o mais integrais possível.

A cevada é um cereal indicado para o bom funcionamento do fígado e vesícula biliar, auxiliando-os na digestão dos alimentos mais pesados e mais ricos em gorduras.

Muito rica em fibra e em hidratos de carbono de absorção lenta, fornece energia estável e duradoura porque os seus açúcares vão-se libertando de forma gradual na corrente sanguínea, tornando-a ideal para dietas depurativas – a Macrobiótica considera-a um dos cereais mais adequados para a estação da Primavera.

O chá de cevada tostada, é estupendo para se tomar na Primavera, tendo efeito refrescante e relaxante e especialmente indicado para eliminar o excesso de gordura animal acumulada durante o Inverno. Também tem efeito tonificante para o fígado. Pode tomar-se diariamente por ser suave.

É muito rica em minerais e oligoelementos essenciais, como o selénio, o triptofano, o cobre, o cálcio, o ferro, o potássio, o magnésio e vitaminas, do complexo B, K e PP.

É nutritiva, energética, laxante, alcalinizante, digestiva, anti-inflamatória, remineralizante, emoliente, refrescante, calmante e tónica geral.

É indicada em caso de prisão de ventre, irritabilidade, eliminação de gordura/colesterol, quistos e cálculos, estados febris problemas hépato-vesiculares, inflamações as vias digestivas, urinárias e bronco-pulmonares crónicas. Óptima para convalescentes.

Fortalece o baço-pâncreas e os intestinos e regula o estômago.

Digere-se facilmente e é muito depurativa.

Bem tolerada pelas crianças, regula as funções intestinais e respiratórias. É indicada para afecções brônquicas, febris e hepáticas. O café de cevada pode dar-se às crianças desde tenra idade.

Estimula a produção do leite materno e contém fitoestrógenos (lignanos) com propriedades preventivas face a certos tumores como o da mama.

A sopa de cevada, usando de preferência o óleo de sésamo para saltear os legumes, é depurativa, adelgaçante, energética, melhora a condição da pele, refresca o sangue e relaxa. Deve cozer bem para se digerir bem.

A sua qualidade refrescante é benéfica para desintoxicar o baço e os rins e para curar a rigidez articular e edemas. É o “alimento-medicinal específico” para o fígado e vesícula biliar. Também beneficia o sistema nervoso e as acumulações de mucos no sistema respiratório.

É remineralizante para os ossos, previne afecções pulmonares e cardio-vasculares.

Pela sua qualidade anti-inflamatória – contém mucílago em quantidade que suaviza as mucosas – é particularmente indicada e caso de gastrite, colite e cistite. A água de cevada pode utilizar-se sobre a pele e olhos irritados ou em gargarejos em caso de anginas.

Recentemente descobriu-se na cevada uma substância, o tocotrienolo, capaz de inibir a formação de colesterol mau no fígado.

As fibras solúveis contidas na cevada – os betas glucanos – podem reduzir o risco de doenças coronárias, o colesterol e o risco de diabetes tipo 2, enquanto que as fibras insolúveis podem reduzir o cancro do cólon.

Contém glúten (5 a 8%), tornando-a proibida para os celíacos.

Mantém a sensação de saciedade, sendo indicada para dietas adelgaçantes.

A CEVADA NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

“Eu sou a cevada preganuda. Quando vier o mês de Maio, lá darei a minha ajuda”

(sabedoria popular, Beira Alta, Bismula).

A cevada “preganuda” (com "preganas") era usada como pão fino na Primavera nas aldeias portuguesas da Beira Alta, até meados do sec. XX, pois sendo muito mais precoce, substituía o centeio e outros cereais, que amadureciam mais tarde, no Verão.

A variedade recomendada para uso regular é a cevada integral biológica, descascada ou não. Já a farinha e os flocos de cevada, são para uso ocasional.

É um cereal refrescante, particularmente indicado para a Primavera e Verão.

É consumida em grão (descorticado ou integral), em flocos e sob a forma de pão.

Em forma de chá, os grãos de cevada tostada, além de ajudar o aparelho digestivo, constitui um bom substituto do café.

Na alimentação quotidiana, come-se sobretudo em sopas ou como o arroz integral, de preferência com legumes ou misturada ao arroz, na proporção de 2 para o arroz e 1 para a cevada. Depois de cozida, pode ser utilizada em cremes para o pequeno-almoço, sopas, salteados, estufados, saladas, etc.

Ao contrário do pão de trigo ou de centeio, o pão de cevada deve ser consumido muito fresco – à saída do forno. Também podemos adicionar um pouco de farinha de cevada ao pão de trigo e de centeio.

É muito fácil de cozinhar, sendo recomendado pô-la de molho durante, pelo menos, toda a noite par activá-la, neutralizar o ácido fítico e torná-la mais tenra (reduzindo assim o tempo de cozedura).

CEVADA PEROLADA ou Cevada Chinesa/ Hato Mugi ou Lachryma Jobi

Esta variedade de cevada merece um parágrafo à parte, dado o seu enorme poder medicinal no Oriente … No entanto, como tudo tem vantagens e desvantagens – e como quanto maiores as vantagens muito maiores as desvantagens –, em caso de utilização desta variedade de cevada para fins terapêuticos, é muito importante consultar um conselheiro macrobiótico experiente - lembro-me de ouvir o mestre Francisco Varatojo referir que só se deveria consumir uma a duas vezes por semana, dado o seu poder para “limpar” o organismo.

Esta variedade de cevada, mais branca, mais compacta, é uma semente em forma de pérola de uma planta selvagem. Não confundir com a cevada “perlada”, polida e refinada, que perdeu a maior parte dos seus nutrientes.

Segundo Michio Kushi tem várias aplicações interessantes: em caso de apendicite, cancro yang, tumores yang, verrugas.

A cevada perolada é, tradicionalmente, o tratamento de cura interno mais conhecido no Oriente e mais habitualmente usado para problemas de pele, para vários tipos de cancro assim como para dissolver os excessos de proteína e gordura devido ao consumo de produtos animais e para limpar as impurezas da pele.

Os resultados começam a aparecer ao fim de 3 meses de uso.

O creme de cevada perolada pode servir de refeição principal e também pode ser usado externamente sobre a pele.

O chá de cevada perolada, é indicado para: quistos (ovários e próstata); um dos mais indicados em caso de cancro; problemas de fígado e de pele; limpeza de pele; sardas, verrugas; é depurativo do sangue; e para problemas de peso.

UMA RECEITA MUITO SABOROSA E MUITO ENERGÉTICA

“TSAMPA” – creme de cevada integral tostada

A Tsampa, é uma papa de farinha de cevada tostada originária do Tibete, dá muita energia e é recomendada para os climas rigorosos, para os desportos e percursos em montanha e para adultos fatigados ou convalescentes.

Para os interessados VER em:

http://opcoesalternativaseprobioticas.blogspot.com/...


A “TSAMPA” – creme de cevada tostada

Por: Gérard Wenker, consultor macrobiótico, Suiça

A Tsampa é uma papa de farinha de cevada tostada originária do Tibete, mais yang do que o kokkoh macrobiótico, dá muita energia e é recomendada para os climas rigorosos, desporto e percursos em montanha, adultos fatigados ou convalescentes.

Preparação dos grãos

1. Lavar, esfregar, escorrer e deitar num recipiente inox 1 kg de cevada integral em grão, de preferência biológica (Fig. 1).

2. Regular o bico do fogão com precisão para uma temperatura média constante.

3. Mexer constantemente com uma espátula larga de madeira (Fig. 2).

4. Os grãos não devem em nenhum caso enegrecer, o que tornaria a preparação amarga. O objectivo é tostar os grãos regularmente até ao “coração” sem os queimar, o que demora cerca de meia-hora.

5. Desligar o lume e deixar arrefecer, continuando a mexer por uns minutos.

6. Guardar os grãos tostados num frasco bem fechado (Fig. 3).

7. Utilizar a quantidade necessária de grãos, à medida das necessidades e moê-los o mais finamente possível (num moinho de pedra ou de café, …). Moer os grãos de preferência na altura em que vai fazer e consumir a tsampa (qualquer farinha começa a oxidar e a perder as suas propriedades energéticas e nutritivas ao fim de 12 horas da trituração dos grãs) (Fig. 4 e Fig. 5).

 

Preparação da tsampa

·     3 colheres de sopa cheias de farinha de cevada tostada moída de fresco.

·      1 colher de sopa de puré de sésamo (tahin) ou de puré de amêndoa.

·      1 pitada de sal.

·   Cerca de ½ litro de água da fonte ou de leite de arroz – ajustar à consistência desejada.

· Aquecer em lume brando sempre a mexer, até ao espessamento e consistência de papa.

Variantes sem cozimento

·   Verter água quente ou fria para uma tijela com 4 colheres de sopa de farinha de cevada tostada, mexer em espiral e deixar engrossar 10 minutos.

·      Salpicar com gomásio.

A tsampa fria ou quente dá muita energia.


  • AUTORES CONSULTADOS
  • • Aveline Kushi
  • • Clara Castellotti
  • • Gèrard Wenker
  • • Michio Kushi
  • • Miguel Boieiro
  • • Francisco Varatojo
  • • Rui Rato

 

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