A PAZ É A ARTE DE EQUILIBRAR O YIN E O YANG
De todos os alimentos integrais, os
grãos de cereais integrais, selvagens ou cultivados, são a forma mais
equilibrada de nutrição e, em todas as suas diferentes variedades, constituíram
a base da alimentação da humanidade durante milénios e, mesmo nos tempos
modernos, têm sido consumidos como alimento principal em todo o mundo. Todas as
civilizações anteriores à era moderna reconheceram que os cereais integrais são
o pilar ou o sustento da vida e que os diferentes tipos de cereais, culturas,
estilos de cozedura e outras formas de preparar os alimentos dão origem à
maravilhosa diversidade e riqueza da cultura humana e social. O arroz e o millet
foram os principais alimentos do Oriente; o trigo, a aveia e o centeio foram-no
na Europa; o trigo sarraceno na Rússia e na Ásia Central; o sorgo e o millet em
África; a cevada e o trigo no Oriente Central; e o milho nas Américas.
A conexão entre os cereais integrais
e a paz foi fundamental nas filosofias tradicionais. No longínquo Extremo
Oriente, o ideograma que representa a palavra “paz” - wa - é formado pelos
ideogramas “grão” e “boca”.
Os nossos antepassados sabiam
intuitivamente que uma dieta baseada numa predominância de cereais e legumes
criava uma mente e uma sociedade pacíficas. O Tao Te King, os tratados
clássicos de Confúcio e os Upanishads, entre outros, contêm esta
sabedoria.(...).
Os costumes modernos referem-se
normalmente à paz como uma trégua entre conflitos bélicos. No entanto, na sua
origem, esta palavra tem um significado muito mais lato. A palavra inglesa
“peace” vem do latim “pax” e significa um ato de consentimento entre dois
opostos. Da mesma forma, as palavras “pacto” e “compacto” derivam da mesma raiz
que “paz” e também significam “consentimento”. A paz é um equilíbrio dinâmico
entre duas forças opostas semelhantes.
A verdadeira paz é uma união
harmoniosa de opostos e não apenas a cessação de um conflito. É um estado ativo
e criativo em que as diferenças individuais e unificam como parte de um todo
mais amplo.
No Extremo Oriente, existiu uma
compreensão dinâmica da paz em comparação com os tempos actuais. A paz era
concebida como um equilíbrio entre o yin e o yang - as duas forças antagónicas
e complementares que constituem todos os fenómenos. Por exemplo, no livro das
mutações o I Ching. Há um hexagrama para “paz”, T'ai, que combina
traços yin e yang em perfeita harmonia.
Os comentários de Confúcio são = PAZ:
“os pequenos começos, as grandes aproximações. Boa sorte. Êxito”.
Desta forma, o céu e a terra unem-se
e todos os seres participam nesta união.
Os que estão em cima e os que estão
em baixo unem-se e tornam-se uma só vontade.
O princípio da luz (yang) está
abaixo do princípio da escuridão (yin). A força está em baixo e a devoção em
cima; o ser superior está em cima e o inferior em baixo”.
O significado de paz (shalom)
foi descrito na tradição judaico-cristã no “Dicionário dos Intérpretes da
Bíblia” como: “O estado de integridade que possuem as pessoas ou grupos, relacionado
com a saúde, a prosperidade, a segurança ou com a integridade espiritual dos
pactos. No Antigo Testamento não se faz qualquer distinção particular entre
estas categorias, a paz militar ou económica é similar à saúde física ou
espiritual do indivíduo.”
Num sentido mais amplo e universal, a
paz e a saúde são a mesma coisa. A paz e a felicidade são inseparáveis. A paz
individual e a paz social são uma só. Num sentido mais prático, a paz refere-se
não só a conseguir o equilíbrio entre os EUA e a União Soviética, entre árabes
e judeus, entre hindus e muçulmanos, entre protestantes irlandeses e católicos
irlandeses, e entre outros lados opostos. A paz tem a ver com o equilíbrio
entre todos os aspectos da nossa vida quotidiana. Inclui equilibrar o frio do Inverno
com o calor do Verão, equilibrar as horas de atividade durante o dia com as
horas de descanso à noite e equilibrar a quantidade e a qualidade dos alimentos
e bebidas que consumimos todos os dias com os que consumimos durante as férias,
emfestas e noutras ocasiões especiais. De facto, quanto mais reflectimos sobre
a nossa existência, mais nos damos conta de que a natureza da qual somos uma
pequena parte constituinte é feita de numerosos opostos. Não só estamos
constantemente a equilibrar estes factores opostos, consciente ou
inconscientemente, como estes factores estão em constante mudança. E isto cria
eventualmente uma dinâmica de opostos. O Verão muda para o Inverno, a juventude
muda para a maturidade, a ação muda para o descanso, as montanhas mudam para os
vales, a terra muda para os oceanos, o dia muda para a noite, o ódio muda para
o amor, os ricos e poderosos declinam, os pobres e dóceis prosperam, a guerra
muda para a paz, os inimigos inveterados tornam-se amigos, as civilizações
crescem e caem, as espécies aparecem e desaparecem, a vida muda para a morte e
para novas vidas, a matéria muda para a energia, o espaço muda para o tempo, as
galáxias aparecem e desaparecem.
Provenientes do Um Infinito ou Deus,
o yin e o yang são as forças eternas que regem todos os fenómenos, visíveis e
invisíveis, individuais ou colectivos, particulares e totais, passados e
futuros. Conhecer os princípios e as leis da mudança é alcançar a Árvore da
Vida, entrar no Reino dos Céus, alcançar a Paz Perfeita. Quando conhecemos
estes princípios e leis, todos os conceitos espirituais e religiosos, todas as
ideias científicas e filosóficas e todos os esforços individuais e sociais são
unificados e compreendidos como aspectos complementares de um todo maior. Estas
forças e tendências são uma bússola que nos permite perceber a ordem e a
harmonia que existe a todos os níveis. Ao conhecê-las, podemos transformar a
doença em saúde, a tristeza em alegria e a guerra em paz.
(Traduzido
por Agnès Pérez do livro de M. Kushi: “Um mundo pacífico”).
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