O YIN E O YANG DA
COZINHA DIÁRIA
por: Martín Macedo
Teoria
e prática devem ir juntas. E ambas são de capital importância. As pessoas mais
concentradas preferem os aspectos técnicos e descuidam a teoria, enquanto as
pessoas mais intelectuais aprofundam naturalmente os aspectos teóricos,
deixando um pouco de lado os aspectos práticos. Temos uma tendência a
inclinar-nos mais para um lado ou para outro de acordo com a nossa natureza.
Mas não nos devemos deixar levar pela inércia das nossas preferências, devemos
compreender que para ter um desenvolvimento global é necessário ingressar no lado
que não nos atrai tanto.
É
muito difícil ter um desenvolvimento equilibrado. Tendemos fortemente a
desenvolver o aspecto yin ou o aspecto yang, ou seja, prática ou teoria.
Devemos trabalhar o lado contrário da nossa preferência pelo menos como forma complementar.
Até agora temos trabalhado principalmente os aspectos teóricos. Está na hora de
ingressar nos importantíssimos detalhes práticos.
Antes
de tudo devemos reconsiderar que quase todos os componentes da nossa dieta são
de origem vegetal, ou seja, que são yin. E no âmbito dos vegetais os mais
neutros, os menos yin, são os cereais. E dentro dos cereais o que melhor
combina ambas as energias é o arroz integral. Por isso o arroz deve estar
diariamente, se possível, nas nossas refeições. Como é possível criar condições
muito yang, partindo de componentes vegetais, de carácter dilatador, expansivo?
Como é possível criar condições muito yang? Todos nós desejamos criar essas
condições muito yang, como a força física e emocional, rapidez, precisão,
autoconfiança, resistência, determinação, uma grande fé, magnetismo, êxito e
atracção.
Em
macrobiótica temos um princípio sagrado: se comes yang tornas-te yang - se
comes yin, tornas-te yin. Se queremos ser muito yang, muito fortes, devemos
comer alimentos yang. Então, pareceria mais lógico ir buscar estes componentes
ao reino animal, onde o yang abunda. O problema está em que os alimentos
animais são extremamente yang (salvo o peixe). Além do mais contêm elevados
níveis de gordura que são extremamente yin, e por isso o alimento animal é
delicioso e a tendência geral é abusar no seu consumo. Ao consumirmos
quantidades importantes de alimento animal, absorvemos ambos os extremos, mas
como o yang predomina, este desequilíbrio extremo irá levar a uma avidez
compulsiva por doces, líquidos, álcool, café, chá-mate e outros yin fortes. O
homem oriental sempre soube isto de forma intuitiva e sempre limitou o consumo
de pratos de origem animal. Enquanto os ocidentais procuram avidamente a força
yang nos alimentos animais, sem reflectir muito sobre as consequências sobre a
sua saúde física e espiritual. O ocidental quer resultados rápidos. É demasiado
yang para parar e fazer uma introspecção.
Porém,
nós procuramos um milagre: produzir um resultado muito yang, partindo de
componentes yin.
O
alimento animal tem excesso de sódio enquanto que o vegetal tem excesso de
potássio. O equilíbrio de sódio e potássio é o que conta. Portanto, para
yanguizar os vegetais yin é imprescindível adicionar sódio em forma de sal
marinho, miso, shoyu, gomásio, umeboshi e outros condimentos. Por outro lado,
podemos yanguizar mediante o uso do fogo e do tempo de cozedura. Os nossos pratos devem ser
cozinhados bastante tempo em fogo muito lento. Ainda assim, os vegetais têm uma
essência yin e a sua capacidade de assimilar yang não é muito grande. Por isso
é recomendável ingerir um pouco de peixe de vez em quando para adicionar yang.
E os pratos de vegetais, feijões, sementes e outros ricos em potássio devem
consumir-se em quantidades pequenas. Se o fizermos em quantidades importantes
afastamo-nos das condições muito yang que queremos criar. Por isso, o
tradicional foi empregar cereais cozidos em volumes maiores e vegetais e outros
complementos em volumes menores. Contudo, para absorvermos todos os benefícios
vitais do cereal, sobretudo se o comermos em volume importante, devemos
mastigá-lo muito bem. De outra forma não o assimilaremos bem, sobretudo por
parte das pessoas de constituição frágil. O uso do sal marinho constitui um
tema delicado, já que a sua força contractiva é extremamente poderosa. Deve-se
consumir em quantidades moderadas. O resultado é um yang suave que nos situa
num grau de equilíbrio energético. Para produzir o resultado muito yang que
desejamos e para o fazer de forma segura, devemos juntar mais dois factores: tempo
e actividade. A perseverança, a vontade é o segredo para acumular a energia
positiva de forma gradual. Passados um ou dois meses de prática constante
começa-se a perceber efeitos poderosos. Porém, se quisermos acelerar o processo
de mudança para condições mais vigorosas, o outro aspecto essencial é a
actividade, o exercício físico. Sem exercício físico, mesmo fazendo bem tudo o
resto, a taxa de mudança faz-se infinitamente mais lenta e corremos o risco de
começar a duvidar sobre o sentido dos nossos esforços. Se quisermos produzir um
resultado muito yang partindo de algo yin, a actividade física é essencial. As
pessoas inactivas, preguiçosas, que sempre procuram a forma mais cómoda de
fazer as coisas, têm muitas dificuldades no momento de avançar na sua recuperação
e muitas vezes abandonam por falta de “resultados”. Para eles há outro caminho
mais rápido e efectivo: a violência terapêutica. Há aqui novamente o paradoxo:
o que procura o fácil, acaba encontrando o mais difícil, o mais duro, o mais
violento. Enquanto que o caminho aparentemente mais difícil e esforçado produz
paz e tranquilidade. Yin muda para yang e yang muda para yin. Devemos ser
sábios para o compreender.
O
ser humano realizado, tranquilo, feliz e extremamente saudável, tem o yang
acumulado no seu interior e o yin no exterior. Aparentemente pacífico,
tranquilo, humilde, calmo, compreensivo e carinhoso. Porém, internamente forte,
decidido, valente, invencível, capaz de enfrentar qualquer desafio e
extremamente adaptável e resistente.
O
homem vulgar tem as energias invertidas. Tem o yang no exterior e o yin no
interior. Desta forma aparentemente muito activo, enérgico, altivo, competitivo
e agressivo. Tem o porte de um conquistador. Porém, internamente é muito
frágil, sentimental, fácil de enganar, inocente, carente de autodisciplina,
pobre em autoestima, medroso, desconfiado, ansioso e compulsivo. Não se aceita
a si próprio e se auto castiga para tentar corrigir as tendências negativas que
não pode eliminar. Considera-se separado de todos os demais e luta para ter um
quinhão de poder onde encontrar segurança, ainda que seja de forma temporária.
Aqueles que procuram a sua força no reino animal, acabam acreditando que são
unidades separadas que devem sobreviver lutando até ao fim. Enquanto que aqueles
que a procuram no reino vegetal, desenvolvem gradualmente uma compreensão
universal, inclusiva, unificando toda a vida do Universo e cooperando para que
todas as formas vivas alcancem a sua plenitude. Uma vez mais a fraqueza vence a
força, a suavidade a prepotência e a paz a violência.
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