Sunday, December 11, 2022

 


“O QUE É A MACROBIÓTICA?

Por: Dr. Martín Macedo

O objectivo da macrobiótica é ensinar a cada pessoa a construção e a criação da sua própria saúde. A ideia é que somos nós os criadores da nossa saúde e somos os criadores da nossa doença.

O tema da macrobiótica é conhecido em todo o mundo, as pessoas conhecem-no como uma dieta, como uma forma de alimentação um pouco rara, estranha, muito parecida com a alimentação tradicional japonesa.

Na realidade, a macrobiótica é uma tradição, é uma forma de compreender a vida e a alimentação e tem uma série de princípios que procuram equilibrar o organismo com o seu envolvimento natural/meio ambiente.

Portanto, é muito macrobiótico comer carne de baleia no Alasca e é muito macrobiótico comer arroz na China ou comer milho no Peru.

Devemos procurar os produtos adequados para alcançar essa harmonia energética e biológica com o envolvimento. Esse é basicamente o objectivo.

A macrobiótica é conseguir a máxima saúde mediante o alcance do equilíbrio das energias yin-yang. São os dois princípios criadores da filosofia e medicina do Oriente.

Há que estudar os princípios – a macrobiótica requer estudo e prática.

O objectivo da macrobiótica é ensinar a cada pessoa a construção e a criação da sua própria saúde. A ideia é que somos nós os criadores da nossa saúde e somos os criadores da nossa doença.

Então, o praticante de macrobiótica o que faz é estudar e praticar e aprender como fazer esse equilíbrio. Como caminhar na corda bamba e para isso tem de aprender a cozinhar e a combinar os ingredientes e isso exige um certo estudo e basicamente usar os produtos alimentares locais e de estação, os produtos oferecidos pela zona, pelo local onde vivemos.

A ideia é que há uma força vital que é a força curativa, a força da natureza que chega a todos os seres vivos e que cada ser vivo conecta-se com essa força vital e que quanto mais habilidade tiver para se conectar melhor se sentirá, mais carregado de energia estarão as suas células - e então o alimento é um instrumento ou uma ferramenta para alcançar essa conexão.

Os animais selvagens fazem-no de forma intuitiva, instintiva e magistral. Cada animal conecta-se com essa força vital que é a mesma força para todos - a força de um escorpião, é a mesma força vital de um pássaro. A força vital de todos os seres vivos é a mesma e não tem limites.

É apenas uma força que os hindus chamam PRANA, os chineses CHI, os japoneses KI e que nós poderemos chamar-lhe simplesmente VITALIDADE.

A conexão através do alimento no caso do ser humano é um pouco mais complexa, porque nós gostamos de cozinhar, elaborar, criar combinações e gostamos de variar, e comer diferente, por exemplo, nas festas do Natal e Fim do Ano.

Porém, uma vaca come sempre igual durante todo o ano. Para a vaca não há Natal, nem há dia de aniversário nem dia da independência. A vaca come sempre o mesmo.

Mas a ideia é que as pessoas que se interessam por este tema possam conseguir melhorar a sua saúde, sentir-se melhor, ter resistência às doenças, porque o objectivo é carregar ao máximo de força vital todas as suas células.

Não é apenas curar a doença ou envelhecer mais devagar, mas que todas as células consigam o seu máximo funcionamento e quando isso acontecer ou quando nos aproximarmos desse objectivo nos sintamos melhor, tenhamos mais êxito no trabalho, nos estudos, mais rendimento para o estudante que necessita de concentração, para o desportista e é por isso que muita gente na Europa, nos EUA, actores de cinema, o futebolista Messi, a seleção espanhola de futebol, muitos desportistas estão utilizando estes princípios nutricionais e biológicos.

Porquê?

Simplesmente porque funciona ! …

De momento não há argumentos científicos suficientes, mas, se funciona, funciona porque é a forma tradicional que tiveram os hindus, os japoneses, os chineses e antigas comunidades indígenas durante mais ou menos uns 6.000 anos, ou seja, porque existe uma experiência prática acumulada – a maior experiência clínica da história.

A força vital do alimento tem de ser maximizada.

Portanto, a forma de cozinhar em macrobiótica, na filosofia macrobiótica, é crucial – se cozinharmos mal os alimentos, estraga-se a força curativa do alimento ou essa força vital do alimento.

Se não cozinharmos de todo, como no caso dos crudívoros - há pessoas que comem tudo cru -, não poderemos aumentar essa força vital.

Por isso, o uso do fogo, dos condimentos, do sal, do óleo, das especiarias, é uma verdadeira arte.

Por isso, para podermos avançar nesta via, precisamos de ser chefes de cozinha.

Necessitamos forçosamente de nos convertermos em chefes de cozinha.

Não em alguém que saiba cozinhar, mas em alguém que saiba criar pratos deliciosos e ao mesmo tempo permitir a saúde daqueles que os comem - portanto a cozinha é o hospital doméstico, é o lugar onde se cozinha tudo.

Na cozinha criamos a doença e a saúde, aqui se cria uma família feliz ou uma família que luta e briga e que tem conflitos constantes.

Esta é um pouco a visão que se tem da cozinha. Portanto a cozinha é para a macrobiótica a arte mais importante de todas, por isso devemos ser artistas. Não é um tema para mulheres, os homens também devem saber cozinhar.

Quando eu comecei no ano de 1981, era muito difícil conseguir produtos, às vezes tinha de ir a Buenos Aires ou ir a Porto Alegre buscá-los. Agora há muitíssimos produtos porque há pessoas interessadas nos alimentos naturais saudáveis.

As pessoas de alguma maneira procuram proteger-se ou aliviar toda essa explosão de doenças crónicas.

E também porque os elementos são muito simples e são muito económicos, porque realmente se simplifica muito a alimentação quando seguimos os princípios da macrobiótica.

Se avaliarmos a experiência global a nível mundial com a dieta macrobiótica ou com a alimentação macrobiótica, os gastos com a alimentação reduzem-se a uma terça parte do que antes se gastava.

São alimentos muito nutritivos, têm muita nutrição - com menos quantidade satisfazemo-nos, não necessitamos comer continuamente grandes quantidades.

Vemos as pessoas sair dos supermercados com os carrinhos cheios de doces, de pão, de manteiga, de fiambres, de queijo, massas, de todo o tipo de coisas – verdadeiras bombas.

Com a macrobiótica simplificamos – é tão nutritiva que com menos quantidade se consegue mais qualidade e essa é a ideia, diminuir a quantidade e aumentar a qualidade. Sempre acontece isso – quando diminui a qualidade aumenta a quantidade e quando aumenta a qualidade diminui a quantidade, são inversamente proporcionais.

Portanto, os alimentos que se utilizam na macrobiótica são alimentos sãos, são muito nutritivos e se os prepararmos bem e se os comermos devagar mastigando-os bem - que é outra das ferramentas para podermos conseguir uma boa qualidade digestiva – então, simplificamos e os custos reduzem. É realmente a forma mais barata de comer.

A macrobiótica é fundamentalmente, se se pode falar de uma forma de medicina, uma medicina educativa, a procura de uma potente tomada de consciência, que procura educar a população para que cada pessoa seja a criadora da sua própria saúde - é um pouco como nos convertermos nos nossos próprios médicos e mestres. Não significa que neguemos os médicos, significa que passamos a ser responsáveis pelo que nos acontece.

Então, quando se educa a população e se lhe ensina que alimentos convém escolher e que alimentos convém evitar ou minimizar, as pessoas educadas e adequadamente motivadas, conseguem tomar melhores decisões.

Não se pode impor, não se pode levar uma pessoa que tenha excesso de peso a atemorizá-la ou assustá-la ou tentar coagi-la porque as coisas levadas à força não duram muito.

O melhor é conseguir que essa pessoa sinta o desejo de melhorar e ensinar-lhe que coisas deve evitar e que coisas pode comer ou lhe convém comer.

Portanto, a ideia não é negar certos alimentos, mas pôr ordem/disciplina na alimentação.

É a desordem/indisciplina que leva ao excesso de peso, é a desordem/indisciplina que leva à hipertensão, é a desordem/indisciplina que leva ao cancro.

A macrobiótica propõe ordem, não repressão, mas ordem. Se pusermos ordem nas coisas, então, as coisas começam a funcionar.

Um médico chamado Paracelso dizia: “o veneno é a dose”.

Não há venenos, tudo o que há são doses venenosas. Uma coisa saudável pode ser tóxica em grandes quantidades e uma coisa venenosa ou tóxica pode ser inofensiva em quantidades ínfimas.

Então, se o chocolate engorda e uma pessoa comer muito pouco chocolate, pode comer chocolate – a questão é a falta de controlo.

O problema é que a nossa sociedade de consumo criou produtos que geram adição.

As coisas doces geram adição – uma pessoa come um rebuçado e quer outro, uma pessoa come um bolo e quer outro.

E então, o consumo aditivo, descontrolado, leva ao excesso de peso.

Esses alimentos não deviam chamar-se alimentos porque nos levam justamente a uma adição e isso é justamente o que procura a sociedade de consumo, que sejamos adictos para que consumamos e eles nos possam vender toneladas dos seus produtos.

Mas, nós, não podemos permitir que as directrizes de produção controlem o nosso comportamento.

Nós, como consumidores, temos de aprender a consumir – e então a ideia é ensinar a consumir melhor, porque se não tivermos uma educação para sabermos consumir, a publicidade e a pressão social e familiar vão levar a que consumamos de mais e o excesso de consumo, ou o descontrolo de consumo, as desordens de consumo levem ao excesso de peso, à hipertensão, aos problemas cardiovasculares, ao cancro.

Então, isso não se conserta com mais remédios, conserta-se com a educação na maneira de consumirmos – e isso é um pouco a macrobiótica e essa é a mensagem que tratamos de levar a todo o lado.

Dr. Martín Macedo, médico, Uruguay.








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