O PRINCÍPIO DAS TRANSFORMAÇÕES
Dr. Martín
Macedo, Uruguay
IVª parte
Aceitar a contradição
É
muito importante aprender a aceitar os dois lados da moeda. Há sempre perdas e
ganhos, simultaneamente. Todos temos simultaneamente um aspeto masculino e um
aspeto feminino. Jovem e velho também. Há células que estão a nascer e células
que vão ser "desmanteladas" porque completaram o seu ciclo. Aos 120
dias, os glóbulos vermelhos estão "velhos" e devem ser destruídos,
para formar novos. Essa é a parte velha. Até um bebé recém-nascido tem essa
parte velha, porque tem glóbulos vermelhos "velhos" com quase 120
dias. Como foi referido no capítulo anterior, Yin e Yang alternam-se, mas
também são simultâneos. E há uma proporção e uma principalidade e complementaridade.
O masculino e o feminino são simultâneos.
Todos
temos as hormonas de ambos os sexos. Mas não somos hermafroditas. Precisamos do
sexo oposto para gerar vida, para nos reproduzirmos. É aí que reside a
simultaneidade. Podemos desempenhar papéis masculinos ou femininos à vontade.
Uma mãe solteira faz de pai e de mãe ao mesmo tempo. Faz ou interpreta magnificamente
o papel Yang do pai, se assim o desejar. Da mesma forma, um pai viúvo com
filhos pequenos pode ser Yin, terno e compreensivo como se fosse uma mãe.
Porque ambas as energias estão em todos os fenómenos. Se algo fosse apenas Yin,
expandir-se-ia mais e mais até explodir.
Se
algo fosse só Yang, contrair-se-ia cada vez mais até implodir e desaparecer.
Como um buraco negro. Só Yang. Portanto, todas as estruturas têm ambas as
forças coexistindo, como numa competição pela supremacia. Uma tratando de contrair
e a outra tentando expandir. Mas, a longo prazo, o Yin vence o Yang. Este facto
é conhecido como entropia. A entropia é a tendência de todos os sistemas
organizados para a desordem, para a dissolução, até à finalização da sua existência.
Os nossos corpos físicos estão sujeitos à entropia e é por isso que
envelhecemos. E isso é inevitável.
Mas
podemos diminuí-la, conhecendo como funcionam o Yin e o Yang e integrando-a na
forma de nos alimentarmos. Alguns alimentos aumentam a entropia (os alimentos
muito Yin que acidificam o sangue) e outros abrandam-na (os alimentos yang de
qualidade vegetal e mineral). Portanto, todos nós temos ambas as tendências,
por vezes dominando uma e outras vezes dominando a outra. Não somos 100% uma ou
outra. Nem 100% masculinos, nem 100% femininos. Nem 100% saudáveis, nem 100%
doentes.
Todos
temos uma parte doente, subclínica, escondida, mas potencial. Se 90% de nós for
saudável, podemos dizer que somos muito saudáveis. Mas se a parte oposta se
tornar forte e começar a ganhar protagonismo, a nossa "estabilidade"
perde-se e a situação inverte-se. Por isso é muito importante aprender a
aceitar a contradição que somos, ou seja, a coexistência de ambas as
tendências.
Todos
temos defeitos e virtudes. Todos temos um lado "santo" e um lado
"pecador". Todos temos segredos ocultos e aspectos que mostramos
abertamente. Isto é muito importante. Porque se há um aspeto que não aceitamos,
geramos um conflito emocional. A não aceitação já é um conflito. Se um diabético
não aceita a sua doença, para além de ter de sofrer com a sua doença, terá de
sofrer por não se aceitar e amar tal como é. Isso gera mais desordem, mais entropia,
mais infelicidade.
O
melhor é aceitar o outro lado. E começar a trabalhar para aumentar o lado que
nos interessa aumentar, neste caso a saúde. Todos temos um "sábio" e
um ignorante. Por muito que estudemos e aprendamos, há inúmeras coisas que não
saberemos. Ignoraremos muitos idiomas, muitos pormenores da geografia ou da
geologia de outras nações ou de outros lugares do sistema solar. A maioria das
pessoas aceita que ignoram muitas coisas e isso não lhes causa conflitos. Mas
há pessoas que não se perdoam por não terem terminado a universidade ou a secundária.
E
alimentam sempre a sua autorrejeição.... Não estudei, não tive perseverança,
arrependo-me muito de não ter continuado naquele trabalho ou naquela relação
que teria sido maravilhosa. Simplesmente não aceitam o seu lado ignorante,
inexperiente, inocente e ingénuo. E não o aceitar já é um problema. Porque se gera
um conflito que nos torna menos saudáveis e felizes. Uma pessoa sábia aceita o
"outro" lado, que faz parte da nossa natureza, mesmo que não gostemos
dele. E além disso é inevitável.
Por
isso, para criar saúde, não temos de lutar "contra" a doença. Há que aceitar
a doença e "utilizá-la" para aumentar a nossa determinação em criar
uma saúde magnífica. A doença como caminho. Aprender, tomar consciência, descobrir
que hábitos ou práticas nos estavam a destruir ou a enfraquecer. E, a partir
dessa experiência desagradável, descobrir o que quero e focar-me. "Já passei
pela doença e agora sei que o que quero com toda a minha alma que é uma saúde
magnífica”.
Já
passei pelo Inverno e agora sei o que quero é que chegue a Primavera e o Verão
para poder desfrutar do mar e das montanhas. A experiência do contraste fortalece
a nossa determinação. Para conseguirmos algo, temos de estar determinados a
consegui-lo. E para criar saúde, há que ter muito claro de que a desejamos
tanto que estamos dispostos a fazer tudo para a conseguir. Há que sentir
gratidão e emoção quando se sente um desejo tão forte. Porque é aí e só aí que
emerge o gigantesco potencial humano.
O
grande ser humano só é grande quando tem grandes desejos e está disposto a dar
tudo por eles. Se a experiência da contradição é capaz de esculpir na nossa
alma um desejo tão poderoso, tão grande, tão veemente, então bendita
contradição, bendito contraste. Bendita pobreza, bendita solidão, bendita
doença, bendito despedimento laboral, bendita crise. Aceitar é muito
importante. Mas ainda mais importante é chegar a um nível em que aprendemos a
abençoar e a sentir gratidão por aquilo que antes considerávamos o "aspeto
negativo" da nossa vida. É por isso que na filosofia oriental se diz que o
vazio cria a abundância, tal como o Inverno cria a Primavera. É apenas uma
questão de perceção.
Com
uma mudança de percepção, podemos utilizar o aspeto anteriormente abominado e convertê-lo
num poderoso trampolim para o lado que nos interessa experimentar. Assim, a
doença pode ser um motivo de dor e tristeza, um estigma e uma cruz. Mas se
tivermos esta visão, a doença pode converter-se num trampolim para a
transformação da nossa vida. E podemos criar uma saúde magnífica, acima da
média. Ou inclusivamente tornarmo-nos curadores. Os exemplos são muitos.
Georges Ohsawa,
Louise Hay, Dr. Edward Bach, Horace Fletcher, Mina Dovick e muitos outros
sofreram de doenças "incuráveis" e tornaram-se campeões da medicina
natural. O próprio Pasteur ultrapassou a dor da morte de duas das suas filhas
devido a doenças infecciosas e dedicou-se de alma e coração à descoberta da
vacina contra a raiva. E salvou milhares de pessoas. Ohsawa chamou a esta arte,
aprender a descobrir a "utilidade da inutilidade". E no Budismo
ensina-se que a bela flor de lótus cresce na lama mais suja. E o mais elevado
mestre Zen constrói a sua túnica de Roshi (mestre muito avançado) com restos de
roupas velhas que recolhe do lixo, lavando-as e costurando-as cuidadosamente. Aceitar
é importante, mas amar o lado “desvantajoso" torna-nos muito grandes e
sábios. Porque compreendemos que um não existe sem o outro. Que um é a razão de
ser do outro.
(continua)
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