Wednesday, July 19, 2023

 


 O PRINCÍPIO DAS TRANSFORMAÇÕES

Dr. Martín Macedo, Uruguay

IIIª parte

Aprender a controlar o desequilíbrio

O esquema clássico de yin e yang, mostra as duas metades exatamente simétricas, uma branca e outra negra. São opostas com 50% do espaço para cada uma. Isso sugere um equilíbrio "perfeito" entre as duas forças criativas. No capítulo anterior, referimos que yin e yang, sucedem-se, alternam. Primeiro o dia e logo a seguir a noite. A inspiração segue-se à expiração. O estômago primeiro enche-se e logo se esvazia (nalguns casos isso nunca acontece....). As pessoas chegam e logo se vão embora.

A leitura começa na primeira página e culmina na última. Primeiro o princípio e logo o fim. Ou início e fim. Todo o início implica um fim. Sem excepção. Se há um início, há um fim. É absoluto. Se o Verão começa, o Verão vai terminar. Ninguém o pode impedir. O nosso nascimento caminha inexoravelmente para o seu fim. A doença também. Afirmar que uma doença é incurável é afirmar que tem uma data de início e não tem data de finalização.

E não há excepções a este princípio eterno. Se começa, acaba. Sem falta. Sem excepção. Se o cristianismo começou um dia, algum dia vai acabar. A minha mãe é super católica. Quando eu era muito jovem, gostava de discutir com ela sobre este assunto. Ela dizia que a Bíblia afirma que "o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão (Mateus 24:35)" e, do seu ponto de vista, isso equivale a dizer que a "sua" Igreja Católica é eterna. Argumentava-lhe que a Igreja ia desaparecer totalmente um dia porque "tudo o que tem um princípio tem um fim" e este é um princípio absoluto.

E isso incomodava-a, porque se a sua Igreja acabar, o seu sistema de crenças desmorona-se e ninguém quer um terramoto desse tipo. Caiu o Muro de Berlim, caiu o Império Romano, caiu o império de Napoleão e o de Alexandre Magno. E o de Genghis Khan. Tudo o que tem um princípio tem um fim. Este princípio é poderoso. Se procurarmos algo dia e noite, acabaremos por o encontrar. O objetivo é começar e continuar até encontrarmos o que procuramos. Por isso, yin e yang alternam-se.

A mudança. O princípio e o fim. Para além do yin e do yang, está a eternidade imutável, sempre viva, sempre em transformação, para além dos vai vens do yin e do yang. Aceitando tudo com paz infinita, como um monge que medita profundamente sobre uma rocha solitária. Mas yin e yang não só se alternam como também coexistem. São dois aspectos simultâneos e ambos reais. O dia e a noite alternam-se. Mas simultaneamente há dia em Tóquio e noite em Buenos Aires. O masculino e o feminino coexistem em nós.

O sábio e o tolo. O rico e o pobre. O saudável e o doente. Ninguém é absolutamente masculino ou absolutamente feminino. Tudo tem percentagens variáveis de Yin e Yang. Temos uma parte densa (ossos e tendões) e uma parte mole, líquida, fluidos, sangue, líquido intersticial. Simultaneamente. Por vezes estamos mais "húmidos" e outras vezes mais "secos". Por vezes mais emocionais e por vezes mais racionais. Mas ambas as naturezas coexistem. O nosso prato de comida contém ambas as "energias" yin e yang. Os alimentos de origem animal são yang.

Os alimentos de origem vegetal são relativamente yin. Mais frescos, calmos, macios, com maior conteúdo de água e uma energia mais pacífica, mais estática. Os alimentos cozinhados são relativamente yang (o fogo é yang) e os alimentos crus são relativamente mais yin (mais frescos, mais frios estruturalmente íntegros). Os alimentos salgados (de preferência usar um pouco de sal marinho) são mais yang e os alimentos doces são mais yin. E assim, o nosso prato de comida contém simultaneamente as duas energias.

E todos os dias isso muda consoante as necessidades desse dia, do nível de atividade, do clima, do estádio de ânimo, dos “desejos” e das preferências dos hábitos herdados. Não existe uma "dieta equilibrada", tampouco é apropriado temer o desequilíbrio. Porque equilíbrio e desequilíbrio sucedem-se sem falta. São outra forma de manifestar yin e yang. Alternam, equilíbrio e logo a seguir o desequilíbrio. Como quando caminhamos ou conduzimos uma bicicleta.

Andamos de um lado para o outro, desequilibramos um pouco e depois reequilibramo-nos, e logo a seguir repetir o ciclo. Quando uma criança aprende a andar, simplesmente aprende a controlar o desequilíbrio. Quando aprende a andar de bicicleta, aprende a controlar o desequilíbrio provocado pela pedalada e pela rotação do guiador. O mesmo acontece com a dieta. Há que aprender a controlar o desequilíbrio, porque a dieta é algo muito dinâmica como andar ou conduzir uma bicicleta. Muitas pessoas vão a um nutricionista para obter uma "dieta equilibrada" ou uma "dieta balanceada".

A palavra “equilibrada” atrai-nos e tranquiliza-nos. A palavra "dieta desequilibrada" inquieta-nos e percepcionámo-la como uma ameaça para a nossa saúde. Também na medicina chinesa nos dizem que as técnicas físicas como a acupunctura, a moxabustão ou a massagem Tuina procuram o "equilíbrio" Yin e Yang. Idealiza-se a procura do "equilíbrio". Mas pensemos numa balança. Se estiver em "equilíbrio", a balança é inútil. Apenas é útil como objeto de decoração. A balança é útil e poderosa quando é desequilibrada e depois reequilibrada para determinar o peso de um produto. Equilibrando-se e desequilibrando-se. É assim que somos. Como as balanças. Dinâmicos. Ao respirar já nos desequilibramos.

E logo corrigimos ou controlamos o desequilíbrio. A nossa digestão também passa por fases em que o nível de sais, proteínas, líquidos é desequilibrado e depois o organismo cria um equilíbrio, estabilizando, corrigindo o desequilíbrio. Mas nós fomos ensinados a temer o desequilíbrio. "Esta pessoa está desequilibrada”. Deve ir ao psiquiatra.

Ou perdeu o equilíbrio e caiu no vazio quando estava a conduzir o carro. Mas conduzir um carro, um avião ou um barco é também retificar o inevitável desequilíbrio que ocorre a cada momento durante a viagem. O que o piloto ou o condutor faz é retificar, corrigir o desequilíbrio. E para isso teve de estudar e treinar-se. Teve de aprender a corrigir o desequilíbrio. E nós podemos aprender a fazê-lo com a nossa saúde e com a nossa doença, pois ambas disputam a supremacia. .......

(continua)




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