O PRINCÍPIO DAS TRANSFORMAÇÕES
Dr. Martín
Macedo, Uruguay
IIIª parte
Aprender a controlar o desequilíbrio
O esquema
clássico de yin e yang, mostra as duas metades exatamente simétricas, uma
branca e outra negra. São opostas com 50% do espaço para cada uma. Isso sugere
um equilíbrio "perfeito" entre as duas forças criativas. No capítulo
anterior, referimos que yin e yang, sucedem-se, alternam. Primeiro o dia e logo
a seguir a noite. A inspiração segue-se à expiração. O estômago primeiro enche-se
e logo se esvazia (nalguns casos isso nunca acontece....). As pessoas chegam e logo
se vão embora.
A
leitura começa na primeira página e culmina na última. Primeiro o princípio e logo
o fim. Ou início e fim. Todo o início implica um fim. Sem excepção. Se há um início,
há um fim. É absoluto. Se o Verão começa, o Verão vai terminar. Ninguém o pode
impedir. O nosso nascimento caminha inexoravelmente para o seu fim. A doença
também. Afirmar que uma doença é incurável é afirmar que tem uma data de início
e não tem data de finalização.
E
não há excepções a este princípio eterno. Se começa, acaba. Sem falta. Sem excepção.
Se o cristianismo começou um dia, algum dia vai acabar. A minha mãe é super
católica. Quando eu era muito jovem, gostava de discutir com ela sobre este
assunto. Ela dizia que a Bíblia afirma que "o céu e a terra passarão,
mas as minhas palavras não passarão (Mateus 24:35)" e, do seu
ponto de vista, isso equivale a dizer que a "sua" Igreja Católica é
eterna. Argumentava-lhe que a Igreja ia desaparecer totalmente um dia porque
"tudo o que tem um princípio tem um fim" e este é um princípio
absoluto.
E
isso incomodava-a, porque se a sua Igreja acabar, o seu sistema de crenças
desmorona-se e ninguém quer um terramoto desse tipo. Caiu o Muro de Berlim, caiu
o Império Romano, caiu o império de Napoleão e o de Alexandre Magno. E o de
Genghis Khan. Tudo o que tem um princípio tem um fim. Este princípio é
poderoso. Se procurarmos algo dia e noite, acabaremos por o encontrar. O
objetivo é começar e continuar até encontrarmos o que procuramos. Por isso, yin
e yang alternam-se.
A
mudança. O princípio e o fim. Para além do yin e do yang, está a eternidade
imutável, sempre viva, sempre em transformação, para além dos vai vens do yin e
do yang. Aceitando tudo com paz infinita, como um monge que medita
profundamente sobre uma rocha solitária. Mas yin e yang não só se alternam como
também coexistem. São dois aspectos simultâneos e ambos reais. O dia e a noite
alternam-se. Mas simultaneamente há dia em Tóquio e noite em Buenos Aires. O
masculino e o feminino coexistem em nós.
O
sábio e o tolo. O rico e o pobre. O saudável e o doente. Ninguém é
absolutamente masculino ou absolutamente feminino. Tudo tem percentagens
variáveis de Yin e Yang. Temos uma parte densa (ossos e tendões) e uma parte
mole, líquida, fluidos, sangue, líquido intersticial. Simultaneamente. Por
vezes estamos mais "húmidos" e outras vezes mais "secos".
Por vezes mais emocionais e por vezes mais racionais. Mas ambas as naturezas
coexistem. O nosso prato de comida contém ambas as "energias" yin e
yang. Os alimentos de origem animal são yang.
Os
alimentos de origem vegetal são relativamente yin. Mais frescos, calmos, macios,
com maior conteúdo de água e uma energia mais pacífica, mais estática. Os
alimentos cozinhados são relativamente yang (o fogo é yang) e os alimentos crus
são relativamente mais yin (mais frescos, mais frios estruturalmente íntegros).
Os alimentos salgados (de preferência usar um pouco de sal marinho) são mais
yang e os alimentos doces são mais yin. E assim, o nosso prato de comida contém
simultaneamente as duas energias.
E todos os dias
isso muda consoante as necessidades desse dia, do nível de atividade, do clima,
do estádio de ânimo, dos “desejos” e das preferências dos hábitos herdados. Não
existe uma "dieta equilibrada", tampouco é apropriado temer o
desequilíbrio. Porque equilíbrio e desequilíbrio sucedem-se sem falta. São outra
forma de manifestar yin e yang. Alternam, equilíbrio e logo a seguir o desequilíbrio.
Como quando caminhamos ou conduzimos uma bicicleta.
Andamos
de um lado para o outro, desequilibramos um pouco e depois reequilibramo-nos, e
logo a seguir repetir o ciclo. Quando uma criança aprende a andar, simplesmente
aprende a controlar o desequilíbrio. Quando aprende a andar de bicicleta,
aprende a controlar o desequilíbrio provocado pela pedalada e pela rotação do
guiador. O mesmo acontece com a dieta. Há que aprender a controlar o
desequilíbrio, porque a dieta é algo muito dinâmica como andar ou conduzir uma
bicicleta. Muitas pessoas vão a um nutricionista para obter uma "dieta
equilibrada" ou uma "dieta balanceada".
A
palavra “equilibrada” atrai-nos e tranquiliza-nos. A palavra "dieta
desequilibrada" inquieta-nos e percepcionámo-la como uma ameaça para a
nossa saúde. Também na medicina chinesa nos dizem que as técnicas físicas como
a acupunctura, a moxabustão ou a massagem Tuina procuram o
"equilíbrio" Yin e Yang. Idealiza-se a procura do
"equilíbrio". Mas pensemos numa balança. Se estiver em
"equilíbrio", a balança é inútil. Apenas é útil como objeto de
decoração. A balança é útil e poderosa quando é desequilibrada e depois
reequilibrada para determinar o peso de um produto. Equilibrando-se e
desequilibrando-se. É assim que somos. Como as balanças. Dinâmicos. Ao respirar
já nos desequilibramos.
E logo
corrigimos ou controlamos o desequilíbrio. A nossa digestão também passa por
fases em que o nível de sais, proteínas, líquidos é desequilibrado e depois o
organismo cria um equilíbrio, estabilizando, corrigindo o desequilíbrio. Mas nós
fomos ensinados a temer o desequilíbrio. "Esta pessoa está
desequilibrada”. Deve ir ao psiquiatra.
Ou perdeu o
equilíbrio e caiu no vazio quando estava a conduzir o carro. Mas conduzir um
carro, um avião ou um barco é também retificar o inevitável desequilíbrio que
ocorre a cada momento durante a viagem. O que o piloto ou o condutor faz é
retificar, corrigir o desequilíbrio. E para isso teve de estudar e treinar-se.
Teve de aprender a corrigir o desequilíbrio. E nós podemos aprender a fazê-lo
com a nossa saúde e com a nossa doença, pois ambas disputam a supremacia.
.......
(continua)
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