Thursday, November 21, 2024

 


A ETERNA JUVENTUDE

vs.

Entropia

Desde tempos imemoriais, o ser humano tem procurado, sem sucesso, a fonte da juventude eterna.

Não é por acaso semelhante, a procura da imortalidade ?

Existem certas lendas sobre uma fonte em que aqueles que nela se banhassem, permaneceriam eternamente jovens. Ou também a procura do Santo Graal, que ainda hoje tem pessoas empenhadas na sua procura, mostra um forte interesse na possibilidade da imortalidade. Na ciência física, há um conceito muito interessante: a entropia.

Todo o sistema físico tem uma tendência espontânea para a desordem, para o caos. O nosso organismo é um sistema físico. É uma organização de 50 triliões de células, com uma cabeça e um corpo que lhe obedece (a maior parte das vezes). Como sistema organizado, como uma gigantesca organização de células, órgãos e tecidos, está como todos os sistemas físicos, sujeito à inexorável entropia.

Poderíamos comparar, como fez Ohsawa, o nosso organismo, a um grande império, com um poder central, o cérebro, e um grande corpo que se estende para fora. Se o poder central, se o Imperador, perde a capacidade de organizar e administrar o seu grande império, este converter-se-á num caos. A cabeça deve controlar o corpo e não o contrário. Se permitirmos que os nossos desejos e impulsos físicos controlem a nossa vida, rapidamente nos destruiremos. A entropia seria demasiado forte. A anarquia e a desordem desintegrariam o nosso "império" orgânico. Todos os sistemas físicos têm uma forte tendência para a desordem. Toda a manifestação física tende para o caos, inevitavelmente avança para a sua desintegração. São as duas grandes mãos do Criador. Yang organiza e constrói; yin desorganiza e desintegra tudo. O nosso sistema orgânico, o nosso corpo físico está sujeito à entropia, tal como qualquer manifestação física. A mudança é inevitável. A entropia é inevitável. Mas podemos abrandar ou apressar a desintegração do nosso império celular. A única forma de abrandar a entropia, o grande destruidor, o grande YIN, seria como uma formidável força opositora, um grande YANG, uma gigantesca coesão.

Alguns conseguiram-no artificialmente. Todos nós já ouvimos falar de certas pessoas que desejam que os seus corpos sejam congelados logo após a morte para "existirem" indefinidamente até que ciência descubra, num futuro longínquo, a forma de os fazer reviver. Estes corpos como o de Walt Disney, estão conservados, intactos, em azoto líquido, em contentores, a uma temperatura extremamente fria. A ciência descobriu uma forma de neutralizar a entropia: o frio. Mas tem de ser um frio extremamente forte, incompatível com a vida. Algo assim como 280 graus Celsius abaixo de zero. O frio contrai, produz um efeito yang, anti entropia. O frio é uma força yang formidável. Então teremos de descartar o frio como estratégia para neutralizar a entropia, porque o frio requerido é incompatível com a vida humana que pulsa a +36,5° Celsius. Utilizando a nossa filosofia de duas variáveis, yin e yang, podemos constatar que a saúde é ordem e a doença é desordem, caos, perigo, instabilidade, envelhecimento e entropia. Quando estamos doentes, a entropia é muito mais poderosa e por isso sentimos um certo medo, uma certa preocupação. A morte é a vitória da entropia. A vida é o fracasso da entropia.

Como a entropia é desordem, a forma de a neutralizar é com a maior ordem. É muito simples. Se os nossos hábitos forem ordenados, se a nossa alimentação, emoções e pensamentos forem basicamente estáveis e controlados, poderemos derrotar a entropia durante muito tempo. Muitas pessoas constataram um rejuvenescimento ao praticarem uma transformação na sua forma de alimentação. Trata-se simplesmente de ordenar as suas práticas alimentares habituais. O desejo de comer é extremamente poderoso. É um desejo físico. O mais poderoso dos desejos físicos, o mais difícil de dominar. Se cedemos aos seus caprichos, as forças da entropia tornam-se cada vez mais poderosas e envelhecemos rapidamente. Os alimentos muito yin, como açúcar, refrigerantes, gelados, leite e frutas tropicais, incrementam a desordem, ao incrementar a entropia. Estes alimentos engordam, acidificam, atraem germes nocivos, desestabilizam a circulação, a pressão arterial, o nível de açúcar no sangue e, pelo seu efeito diurético, roubam sais minerais, que dão solidez à nossa estrutura biológica. Mas, paradoxalmente, são os mais "deliciosos". As iguarias de tipo Yin são as armas mais eficazes da entropia. Mas esses manjares são desejados com uma força gigantesca quando se consomem proteínas de origem animal. O extremo yang conduz inevitavelmente ao extremo yin. Por isso, quem é "carnívoro", quem faz dos alimentos de origem animal uma componente diária e importante da sua prática nutricional, quer seja médico, advogado, gerente de uma grande empresa ou presidente de uma grande nação, será impelido com uma força invencível em direção ao grande yin, (leia-se álcool, sobremesas, massas doces, comida de "festa") e introduzirá no seu sangue, nas suas células, no seu cérebro, nos seus ossos e nos seus órgãos reprodutores as invencíveis forças da entropia. Terá então de fazer heroicos esforços para se manter "em forma" com programas de exercício muito exigentes e uma sistemática repressão de álcool, tabaco e alimentos muito calóricos. Provavelmente terá de gastar fortunas em cirurgias correctivas ou estéticas. Esse é o triste destino dos "carnívoros". A sua força aparente é um simples mito. A sua aparência forte e determinada é desmascarada ao chegarem aos 40 anos de idade. O ser humano é o ponto mais alto da cadeia da evolução biológica. É o animal mais yang. A sua avidez por yin, é tremenda. Se comer alimentos de origem animal (incluindo lacticínios) diariamente e em grandes quantidades, para além de ser a base do seu prato (ou o prato "forte") só vai conseguir exacerbar essa avidez, que será incontrolável. Então começará a engordar, a aumentar a sua tensão arterial, a acidez sanguínea (ácido úrico), o colesterol sanguíneo, os triglicéridos e a tendência para a diabetes. O mais yang (o forte e poderoso carnívoro) converte-se no mais yin: num jovem de 45 anos que tem de tomar 3 ou 4 medicamentos para se "controlar". É o axioma da filosofia oriental: o último será o primeiro e o primeiro será o último. No início, toda a gente goza com o “vegetariano”. Parece yin, um pouco débil, demasiado pacífico, um pouco místico talvez. É o problemático em todas as festas e reuniões de família. Parece estar atrasado em relação aos tempos. Os carnívoros parecem avançar rapidamente, tomam o mundo de assalto, são os vencedores. O vegetariano fica para trás, demasiado ocupado com os seus pensamentos elevados, enquanto os outros “rápidos” conquistam o mundo. No entanto, após 4 ou 5 décadas, enquanto os amigos da vaca recuperam de uma cirurgia ao coração, são alcançados pelo vegetariano que, lenta mas seguramente, os cumprimenta amigavelmente.

O universo está cheio de paradoxos. O mais yin será o mais yang. O mais yang será o mais yin. E nós decidimos o que vamos escolher. Para retardar o envelhecimento e manter-nos por muitos anos jovens, devemos aplicar “segredos” de tipo yang. Em primeiro lugar, evitar comer e beber em grandes quantidades. O excesso de consumo cria desordem, é yin. Para derrotar o ávido e voraz guloso que vive dentro de nós, a melhor maneira é adquirir o hábito da mastigação. As pessoas dizem: “Estou tentando mastigar mais”. Não é suficiente. A força yin da entropia é imensamente poderosa. É implacável. A mastigação a fundo é a ferramenta mais poderosa para a neutralizar. Porque é muito eficaz para limitar as quantidades que consumimos. Quantidade é yin; qualidade é yang. Mais qualidade, mais alcalina, mais mastigação, gera um sangue mais yang, mais vital e um aspeto jovem, que será tanto mais percetível quanto maior for o nosso compromisso com esta prática ancestral. Poder-se-ia escrever um livro de 500 páginas sobre os benefícios da mastigação e um apêndice com mais 100 páginas. Mas só a experiência poderá mostrar-nos os poderosos alcances desta disciplina física e moral. O homem que controla o seu alimento, controla o seu destino. O que não controla o mais elementar, o seu alimento, a sua bebida, a sua respiração, navega sem controlo, navega sem rumo, e introduz no seu sistema físico e biológico, as forças da entropia com toda a sua potência. A entropia, o caos, a desordem, começarão a ser as tendências dominantes.

Mastigar a fundo é uma grande força anti entropia. Fazer do exercício diário um ritual é outra forma de nos mantermos fortes e jovens. E evidentemente que uma alimentação basicamente vegetariana (90% vegetariana) tornará muito mais fácil escaparmos às tentações yin que aceleram a deterioração física e intelectual. No entanto, a verdadeira juventude nunca estará no corpo, mas na alma. A alma é imortal. Se não aceitarmos a imortalidade da alma, seremos dominados pela desesperança e pelo medo da morte. Se aceitarmos e acreditarmos na imortalidade da alma como o nosso verdadeiro "eu", compreenderemos que o corpo físico é simplesmente uma veste, uma morada temporária e uma experiência física transitória. A alma vestirá novas roupas, aqui e ali, na Terra e noutros mundos, e continuará adquirindo experiência no incessante processo evolutivo. Mas nem por isso devemos menosprezar a importância do corpo físico. Já que corpo e espírito são inseparáveis. O corpo é uma forma condensada do espírito. Quem pode determinar com exactidão onde termina o corpo e começa o espírito?

Por isso devemos sustentar a visão interior, a imagem mental da saúde, da paz, da felicidade e da beleza como a nossa imagem dominante. E focar a nossa atenção apenas nela. Se nos focarmos com força suficiente na nossa visão, as nossas práticas habituais orientar-se-ão espontaneamente e sem grande esforço numa direção construtiva. E assim poderemos manter-nos jovens e joviais por muito mais tempo do que os homens comuns pensam ser possível.

Dr. Martín Macedo ("Autocura", 2013)



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