CATEQUIZAR PELO EXEMPLO
Falar
é fácil. Qualquer pessoa pode falar durante horas sobre os benefícios em seguir
uma via espiritual, uma disciplina moral ou sobre práticas saudáveis. No
entanto, sustentar com factos este discurso é muito difícil. Podemos ter as
melhores intenções, fortes desejos de fazer ver aos outros o bem que é fazer o
que fazemos, mas isso não é suficiente. O que dá força ao nosso discurso é o
que nós fazemos e não tanto o que dizemos. Quase todas as pessoas que começam a
experimentar os benefícios de uma mudança de hábitos alimentares, e a
compreender como o que comem afecta as suas vidas desejam introduzir as suas
famílias e amigos no caminho da macrobiótica. No entanto, estes ainda não estão
interessados em realizar nenhum tipo de mudança, o que, por vezes, gera
dificuldades nas relações. Quem compreende chega a esta compreensão logo após
ter experimentado dificuldades inesperadas ou após uma súbita inspiração. Mas
reparei que muitas pessoas em vez de se concentrarem na sua própria experiência
e concentrarem os seus esforços no seu progresso pessoal, dedicam-se em tentar
convencer os seus familiares e outras pessoas que lhes são próximas. E
geralmente isso não funciona. Em vez disso, "o convertido" torna-se
um incómodo para todos. Este impulso de querer ajudar, assim que
tomamos consciência de novas verdades é muito natural e também me aconteceu a
mim. Devemos compreender que, para amadurecer, é preciso passar por certas
experiências, por vezes muito difíceis e dolorosas. E nem todos amadurecem ao
mesmo tempo. Mas queremos evitar o sofrimento a quem amamos, e daí a
insistência. É muito desejável querer ajudar e é uma das consequências de se
estar verdadeiramente curado. Mas a melhor ajuda não é tentar convencer, mas
calar-se e praticar melhor. Temos de compreender que tudo tem o seu processo. O
primeiro passo é conseguir recuperar a nossa saúde e felicidade. Isso não é
egoísmo, mas a ordem natural das coisas. Mas queremos fazer
tudo ao mesmo tempo e, assim, não chegamos a lado nenhum. O primeiro passo é
conseguir a nossa recuperação, vivendo de acordo com o nosso potencial máximo.
Uma vez alcançado este objectivo, outras pessoas virão até nós e pedir-nos-ão
conselhos. Isto é algo que acontece espontaneamente. Yang atrai yin. Se
estivermos verdadeiramente bem, yin será atraído sem qualquer esforço. Se
necessitarmos de insistir é porque a nossa referência pessoal é
insuficientemente poderosa. Deveremos trabalhar mais e melhor até estarmos
verdadeiramente bem.
Recuperar-nos
é um grande trabalho que requer muita concentração e um certo tempo. Devemos
utilizar todos os nossos recursos interiores e físicos para conseguir este
objectivo. Alcançar a verdadeira saúde é um grande trabalho e para isso devemos
concentrar todas as nossas energias. Se começarmos a pregar antes do tempo,
gastamos tempo e energia num esforço pouco
proveitoso, pois distrair-nos-emos do nosso próprio processo de
recuperação e vamo-nos tornar um fastio para os nossos conhecidos. Então
sejamos sábios e concentremos todos os nossos recursos na consecução do
objectivo de primeira e mais fundamental realização: a nossa própria
recuperação. Se fecharmos a boca, teremos mais força para actuar. Vamos então
mantê-la fechada. Se quisermos atingir um grande objectivo necessitamos de
concentração. Para nos mantermos concentrados, precisamos de um certo
isolamento, uma certa tranquilidade e um certo tempo. Concentração significa
atenção total ao presente. É no presente e apenas aí que se manifesta o nosso
poder pessoal. Mesmo doentes ou severamente limitados fisicamente, a nossa
mente, a nossa energia vital continua a ser poderosa. Mas este poder apenas
vive no presente. E é aí que o devemos procurar. Para contactar com o presente,
devemos meditar. Não é necessário adoptar uma postura especial. Podemos meditar
enquanto viajamos no autocarro ou enquanto tomamos um duche. Meditar é tomar
contacto com o nosso ser interior, de imenso poder, no momento presente. Fora
do agora este poder dispersa-se. O presente é o momento mais yang da
eternidade. Todo o nosso passado e todo o nosso futuro se comprimem
milagrosamente até à extremidade: o instante presente. Este instante tem uma
força absoluta. E precisamos de toda a força do presente para avançar até à
verdadeira saúde. O nosso deus interior possuidor de um poder imensurável só
aparece em cada presente. E cada presente deve ser aproveitado com sabedoria
para atingirmos o nosso objectivo. A primeira coisa a fazer é fixar o
objectivo. Desejo alcançar a verdadeira saúde, a verdadeira vitalidade, ser
incansável, feliz e ser possuidor de grandes impulsos. Desconhecer o medo. Ter
uma fé inabalável e um desejo irresistível de servir a humanidade.
Isso
é saúde. Portanto, a primeira coisa a fazer é definir o que eu quero. Devo-o
ter claro e, se ajudar, posso escrevê-lo num pequeno pedaço de papel e lê-lo
frequentemente. O segundo passo é começar a trabalhar com toda a nossa
intensidade para atingir o objectivo que temos em mente, 24 horas por dia.
Iremos encontrar todo o tipo de dificuldades, distracções, tentações e lutas
interiores. Sempre que tentamos algo aparece uma força contrária tentando
impedir o nosso propósito. É o princípio da acção-reacção. Quanto maior for a
força do nosso propósito, maior será a intensidade da força de reacção,
tentando impedir o avanço. Por isso devemos recorrer à maior das forças
espirituais com que podemos contar: A FORÇA DO PRESENTE. Este deus interior que
vive em cada presente conscientemente aproveitado possui uma vontade de ferro
invencível. Utilizando todos os recursos do nosso poder interior, toda a
vontade, toda a perseverança, toda a coragem e toda a determinação,
alcançaremos o objectivo da saúde absoluta. É algo formoso e não dura para
sempre. Mas enquanto durar, disfrutemo-lo como quem acaba de ganhar a lotaria.
Pode ser que mais tarde nos desconcentremos e percamos este estado exuberante.
Mas podemos recuperá-lo se voltarmos a recomeçar. Esta tremenda força para
alcançar este ou qualquer outro objectivo depende exclusivamente da nossa
habilidade para viver no presente. A vontade, a determinação, a perseverança, o
desejo apaixonado e a autoconfiança inquebrantável, não devem ser procuradas
como coisas separadas ou pensando que algumas pessoas as têm e outras não.
Todas elas surgem simultaneamente quando mergulhamos profundamente no presente.
E o presente é o mesmo para todos. Porque a nossa essência espiritual é a mesma
para todos e essa essência tem as mesmas promessas para todos. Não há pessoas
com maior vontade ou coragem. Há pessoas com maior habilidade para mergulhar no
presente do que outras. Realmente somos grandes quando nos tornamos presentes.
Aí unimo-nos a Deus e, uma vez impulsionados, nada nos deterá. Assim
preparados, pratiquemos a macrobiótica a fundo, com toda a sinceridade e
empenho. Púnhamos muita atenção à mastigação. Mastiguemos bem agora, cada
bocado, cada sorvo de chá, como se fosse a coisa mais importante que fazemos na
vida. Tudo o que façamos no presente deve ser feito com toda a força da
eternidade, porque o agora é a eternidade. Estudemos conscientemente, leiamos
os livros sobre o princípio das mudanças e sobre as leis espirituais. Ponhamos
paixão nos nossos estudos.
E,
por favor, façamos exercícios diariamente, tranquilamente, mas vivendo
intensamente cada movimento. Cada movimento como se fosse a coisa mais
importante do universo, cada postura de ioga, como se milhões de pessoas nos
estivessem a ver na televisão. É assim que Deus age, dedicando toda a sua
atenção a cada pequeno detalhe da vida quotidiana. Depois de algumas horas ou
dias, esta prática de estar no agora, com todo o seu esplendor, passará a ser
algo habitual, e sentiremos uma alegria indiscritível. Dando toda a nossa vida
em cada gesto, obteremos a plenitude do poder. Se praticarmos macrobiótica
desta forma, não poderemos falhar. Ao fim de algumas semanas ou meses,
sentiremos uma profunda certeza de que atingimos o nosso objetivo. Sentiremos
uma felicidade nova, algo que nunca mais vamos querer perder. E por isso a
nossa prática continuará. A nossa destreza na cozinha será cada vez maior e
todas as nossas habilidades correntes serão incrementadas com uma força imensa
e deliciosa.
Por
isso, se quisermos conservar este novo estatuto, devemos continuar e, ainda
assim, devemos evitar pregar. Apenas o nosso exemplo, irá atrair as pessoas.
Quanto mais elevado for o nosso nível de energia, maior será o número de
pessoas que serão atraídas. E então poderemos falar. E as nossas palavras devem
surgir das profundezas do universo, inspiradas pelo espírito, e manifestadas no
agora. Então poderemos falar e seremos ouvidos. E nos agradecerão. Essa é a
verdadeira ajuda aos outros. E as nossas palavras e o nosso exemplo darão vida
aos outros. É disso que se trata, o catequizar pelo exemplo. É fácil de fazer
se usarmos a força do universo. Muito difícil de fazer se desconhecermos a
importância do presente, se vivermos sem foco.
DR. Martín Macedo, Uruguay, 2017.
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