Thursday, December 26, 2024

 


  • PRIMUN NON NOCERE
  • ACIMA DE TUDO NÃO PREJUDICAR

Martín Macedo, Uruguay, 2013

A violência deve ser o último recurso. Quando surge um conflito entre duas pessoas ou entre dois países primeiro tenta-se resolver o mesmo através do diálogo. Depois de terem sido esgotados todos os recursos pacíficos, se o conflito não consegue ser resolvido, serão tomadas eventualmente medidas drásticas. A violência não é desejável e, por isso, é lógico deixá-la para o fim, quando já não se pode fazer outra coisa.

Primun non nocere, significa, antes de mais nada, não causar danos. Constitui a essência do Juramento Hipocrático. O médico recém-formado está determinado a proteger a vida e a saúde do paciente. Deve evitar prejudicar o doente antes de mais nada: primun non nocere. As numerosas avaliações por negligência médica mostram situações danosas por parte do médico ou dos médicos responsáveis. Nesses casos, há uma clara violação do Juramento Hipocrático. Os tratamentos habituais da ciência médica têm, em menor ou maior medida, um certo grau de violência. A cirurgia é um claro exemplo de tratamento agressivo, em que o procedimento é cortar tecidos e abrir vísceras. Todos nós sabemos que qualquer cirurgia, sobretudo as cirurgias maiores acarretam um certo risco e podem surgir complicações. A anestesia geral tem riscos e muitos procedimentos de diagnóstico são também arriscados, como as radiografias. E os fármacos quase sempre têm efeitos secundários. Vemos claramente que os tratamentos das  ciências médicas são agressivos e, por vezes, violentos. Obviamente que estes tratamentos são feitos com a sã intenção de aliviar ou curar, mas nem por isso deixam de ter certa dose de violência. Já que os tratamentos ortodoxos são muitas vezes violentos, é frequente que haja danos para a saúde do paciente e daí a possibilidade bastante alta de má prática. A doença é vista como um inimigo que há que destruir. E destruir requer violência. É óbvio. Não podemos vencer a doença com medidas suaves porque a doença é um inimigo mortal. Tal é a lógica habitual na medicina oficial.

Contudo, continuo a defender que a violência deve ser o último recurso. Deveríamos primeiro tratar a doença com medidas naturais e só no caso de não poderem ser ultrapassadas deveríamos recorrer a tratamentos drásticos. O facto de serem naturais, não significa que não sejam eficazes. Todas as situações de doença implicam um conflito. Este conflito deve ser resolvido pacificamente, através do diálogo, da auto-reflexão e da autocrítica à procura da falha no comportamento quotidiano. Se dois países tiverem um conflito, seria absurdo considerar que o diálogo é inútil porque é "suave" e proceder imediatamente à mobilização de tropas para iniciar uma guerra: "não acreditamos nas medidas brandas, por isso vamos começar uma guerra total o mais depressa possível". Assim procede muitas vezes a ciência médica atacando os sintomas com todas as suas forças por meio de drogas poderosas ou cirurgias. Como em todas as guerras não há tempo a perder, deve-se obter um diagnóstico o mais rapidamente possível a qualquer preço, ainda que alguns procedimentos diagnósticos sejam dolorosas e potencialmente prejudiciais. Uma vez identificado o inimigo (doença) segue o ataque frontal com uma chuva de mísseis para tentar aniquilá-lo o mais rapidamente possível. E a medicina está dotada de um "arsenal terapêutico" muito sofisticado. Arsenal é armamento, a palavra arsenal é usada pelo exército para se referir ao poderio das suas armas. Como em todas as guerras, há um vencedor e um vencido. O médico ataca com as suas armas e o doente recebe o ataque (melhor dito, a doença que está no corpo do paciente). No corpo do paciente coexistem tecidos sãos e tecidos doentes, mas todo o corpo recebe o impacto. Por isso quem perde é o paciente. O guerreiro não está treinado para o diálogo. Está preparado para entrar em combate porque é esse o seu trabalho. Todas as doenças começam no sangue. As toxinas e impurezas são levadas pelo sangue a todo o organismo e quando se acumulam para além de um determinado ponto crítico, começam a aparecer os sintomas. Estas toxinas provêm das ingestões do paciente. Se ele mudar a sua forma habitual de alimentação, o sangue limpar-se-á e, por sua vez, drenará as impurezas e venenos acumulados no tecido ou órgão que está a causar os sintomas. Este seria um procedimento "suave". Resolver o conflito com uma correcção dietética. Apenas em situações de alto risco pela magnitude dos sintomas se deve proceder a medidas drásticas a fim de salvar a vida, mesmo sabendo que a vitalidade geral será enfraquecida. Neste caso, é evidente que a prioridade é salvar uma vida. Quando adoptámos a macrobiótica, começámos imediatamente a produzir um sangue forte e vigoroso. Se se tiver a vontade de continuar por vários dias ou semanas a doença cede sem maior violência. Toda a violência aqui se limita a suprimir hábitos nocivos como fumar, comer em excesso, engolir os alimentos sem os mastigar bem e ingerir alimentos com muito sal, gordura, óleo ou condimentos. Uma violência é menor e a outra violência é maior. Mas algumas pessoas preferem a violência maior, desde que não renunciem aos seus vícios prediletos. O paciente é sempre o responsável, porque é o paciente que escolhe. Ninguém o obriga a adoptar um tratamento drástico ou um tratamento suave. Uma senhora conhecida da minha família, uma grande gourmet, afirmou: "Prefiro morrer a renunciar ao açúcar e ao sal".


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