- COENTROS
- Por: Miguel Boieiro
- Conheces o cilantro? Dizem que é uma aromática fantástica!
Estávamos em mais um dos muitos
colóquios sobre as PAM (Plantas Aromáticas e Medicinais), para os quais tenho
sido assiduamente convidado, e a pergunta, vinda daquele amigo, deixou-me
embaraçado.
- Não! Não conheço, mas olha, não tenho a veleidade de conhecer todas
as plantas, nossas irmãs, que connosco coabitam. De resto, é incomensuravelmente
mais, mesmo muito mais, as que desconheço!
Respondi contrafeito e logo
prometi a mim mesmo, procurar o tal cilantro
que, segundo o meu amigo, seria profuso nas regiões temperadas. Concluí que
afinal, ele se referia simplesmente ao Coriandrum
sativum, ou seja, ao vulgar coentro, cuja utilização é quase quotidiana
na nossa cozinha. Cilantro é a
designação castelhana que, na maior parte dos países hispânicos americanos, passa
a culantro e noutras regiões, a salsa chinesa ou salsa árabe. Para evitar confusões
quanto às nomenclaturas, nunca deixo de colocar o nome científico nas minhas
toscas croniquetas botânicas. Tais confusões surgem amiúde mesmo que se
reproduzam imagens. Neste caso, elas seriam totalmente desnecessárias porque
toda a gente conhece os coentros e sabe que
coentros e rabanetes vão à mesa do rei, como diz a canção.
Quando falo de coentros, vem-me à
memória a visita efetuada à aldeia do Coentral. Alguém conhece esta
terra perdida nas serranias da Lousã? E vejam, cá estão, mais uma vez, as
plantas a influenciar as toponímias. Ora há duas décadas, se tanto, a Sociedade Portuguesa de Naturalogia
decidiu realizar o seu acampamento anual nas imediações de Castanheira-de-Pera,
bem no sopé da Serra da Lousã. Fizemos então uma caminhada até aos tradicionais
neveiros onde se guardava o gelo que, com muito esforço, chegava à corte e à
mesa do rei, o qual, segundo parece, adorava gelados. Depois descemos a serra
pela parte sul e descansámos na típica povoação do Coentral que, a despeito do
seu atraente casario e de outras agradáveis amenidades urbanas, só contava, na
altura, com cerca de cem habitantes. Calhando, hoje ainda terá menos, mas
basta-lhe a originalidade do nome para lhe conferir vetusta personalidade.
O Coriandrum sativum, uma das cerca de 3700 espécies que integram a
família das Apiaceae, é uma erva tenrinha,
prima da salsa, mas com folhas menos brilhantes e mais arredondadas. As
flores, assimétricas, surgem no cimo dos delicados ramos quando a planta espiga,
brancas e rosadas e são muito aromáticas como aliás, toda a planta. A raiz,
esbranquiçada, é alongada e pivotante. As folhas superiores, pendentes nos
caules eretos que chegam a atingir meio metro de altura, ficam mais pequenas do
que as basais. Por sua vez, as sementes são globulosas, tendo de 3 a 6 mm de
diâmetro.
Julga-se que os coentros são nativos
da Europa meridional, norte de África e Ásia menor. Eles preferem
solos leves e permeáveis dos climas temperados, resistem ao frio, mas não
suportam ventanias nem encharcamentos.
Têm como principais constituintes,
óleo essencial, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio, zinco, selénio,
betacaroteno, tiamina, niacina e riboflavina. Descobriu-se recentemente que
também possuem um álcool com ação antibiótica que atua contra a salmonela,
chamado dodecanol.
Eis as suas principais
propriedades medicinais: estimulante, antiespasmódica, estomacal,
bactericida, carminativa, analgésica e antioxidante. Atenua o risco da diabetes
e da obesidade, neutraliza o odor do alho e é útil nas inflamações urinárias. O
livro “Guia dos Alimentos Vegetais” de Jean-Claude Rodet, um dos fundadores
da Agrobio- Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica, acrescenta que na Índia os coentros são considerados
afrodisíacos e ainda que fazem aumentar as glândulas mamárias, atenuam as
enxaquecas e as infeções das mucosas da boca, gengivas e olhos e, em loções e
pomadas, reduzem as dores reumáticas.
Na gastronomia, como sabemos é bem grande a sua
versatilidade. Para além de servir para guarnecer e alindar os pratos,
tornam-se indispensáveis na cozinha indiana (currries, masalas…), na árabe
e na etíope, sem esquecer as nossas açordas alentejanas, os pezinhos de
coentrada e outros acepipes. Devido ao sabor acre, cítrico e picante das sementes,
elas são utilizadas nalguns países para aromatizar o gim, a cerveja e o
vinagre. De resto, constituem também um excelente digestivo quando
mastigadas após as refeições, aliviando as dores de estômago ocasionadas por
comidas pesadas.
No entanto, há pessoas que não gostam de coentros pois acham que têm sabor a sabão (?). Em minha opinião, deveriam provar uma deliciosa sopa confecionada à base de coentros como a que costuma ser servida no Restaurante Alfoz (passe a publicidade). É de comer e chorar por mais!
Miguel Boieiro, Dezembro de 2024.
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